A festa da Botada ou da Moagemby marcia |
A
festa da Botada marcava o início da moagem da cana de açúcar nas
fazendas do Nordeste. Sem que o padre benzesse o canavial, ninguém,
homem livre ou escravo, ia começar sua tarefa. Se algum acidente
sobreviesse, seria explicado como justo castigo de céu. Falta de fé, de
observância religiosa.
A
casa de vivenda, a do engenho, os paióis, as senzalas eram caiados e
limpos.Quinze dias antes da moagem, cortavam-se as canas que chegavam em
carros de bois e ficavam sob alpendres ou em depósitos especiais. De
véspera, enfeitava-se a casa da fazenda e demais construções. No
terreiro, as bandeiras flutuavam nas extremidades de bambus verdes.
Matava-se um boi para o banquete dos senhores, e carneiros e galinhas
para a refeição dos escravos. Os compadres e amigos, vindos de longe com
suas famílias, chegavam um dia antes. Foreiros ajudavam escravos nos
preparativos da música e dos fogos.
No dia da Botada, visitantes acorriam sobre carros de bois, amontoados
sob toldos de esteiras ou de chitão lavrado. Muitos vinham a pé,
descalços, trazendo os sapatos ao ombro. Ouvia-se o engenho moendo com
prazer. Nesse dia, com exceção da gente envolvida com a festa, ninguém
mais trabalhava. Os escravos batucaram depois do jantar. Os foreiros
cantavam e dançavam. As músicas faziam referência ao corte da cana, à
moagem e ao preparo do açúcar.
O fazendeiros presenteavam as crioulas e mulatas de estimação com cortes
de chita ou de cassa, fios de corais e brincos de ouro. Depois da missa,
a família, os convidados e alguns escravos seguiam para o engenho.
Velas acesas eram colocadas perto dos cilindros sobre a plataforma que
sustentava as canas, junto com uma imagem de Nosso Senhor na cruz. O
padre com breviário lia várias orações e, em certos momentos, com um
ramo de arbusto, aspergia água benta no engenho e os presentes.
- Texto baseado em "Beije-me onde o sol não alcança", de Mary del Priore. Editora Planeta, 2015.
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