“A idade não tem podido contra um coração todo seu”, carta de D. Pedro II à condessa de Barralby marcia |
Depois
de mais de trinta anos de amizade com a condessa de Barral, o imperador
D. Pedro II sofre as saudades da distância que os separa: ele no Rio de
Janeiro, ela em Roma.
Rio de Janeiro, 7 de junho de 1880
Condessa,
Cheguei às oito e meia para nove horas da manhã.
Careço
de tempo para copiar as notas de minha viagem que muito me agradou. O
Paraná é uma bela província de grande futuro. O frio fortificou-me,
chegou numa manhã em Curitiba a dois graus abaixo de zero. Não imagina
quanto você me faltou durante essa viagem. Se me quer muito quanto mais
lhe quero eu como o melhor consolo para a vida que levo! Felizmente
achei suas duas cartas acabadas a 30 de abril e a 4 de maio. Creia que a
todas queimo e que preciso de que você me diga tudo e tudo. Sou o mesmo
que lhe inspirou tamanha afeição e de nada me esqueço, tudo revivendo
em mim com o mesmo viço de uma afeição de trinta e tantos anos.
Ah
se lhe contasse tudo o que imaginei nas lindas noites dos campos do
Paraná! A idade não tem podido contra um coração todo seu. Desculpe-me
se lhe falo assim. Você sabe como a estimo, e tudo posso dizer a quem
tão bons conselhos sempre me deu. Ah se você estivesse agora aqui ou eu
em Roma, como apreciaríamos nossa afeição inabalável! Mais quisera
dizer, porém prefiro que você adivinhe tudo o que eu acrescentaria ao
que já escrevi. Vou ler para poder dormir. Adeus! E ainda adeus!
Mande-me
como puder em sua próxima carta um pouco do que você sente por mim tão e
tão longe de quem lhe quer cada vez mais. Adeus!
Vou enfim dormir.
Ontem,
logo que cheguei e aviei, o mais urgente fui ver o reservatório de
água do Pedregulho. Examinei bem a direção da fenda em quase toda uma
diagonal do canto de noroeste ao de sudeste. Pode ser causa local, e a
comissão nomeada e composta de competentíssimos dará brevemente seu
parecer. Rachas semelhantes sem rumo das obras têm-se dado em
reservatórios construídos sob a direção dos mais hábeis engenheiros.
Voltei à barafunda política e amanhã já terei despacho à noite. O resto
da semana será ocupado principalmente com as festas do tricentenário de
Camões. Creio que serão brilhantes. O nosso conhecido Hermann fez aqui
na minha ausência pelotices surpreendentes. Espero vê-lo quando tiver
voltado de São Paulo. Hoje e todos estes dias muito tenho que ler para
ficar um pouco em dia. Esta carta lhe será levada pelo paquete de amanhã
de manhã. Esta noite já há um festejo teatral em honra de Camões. Faz
calor. Amanhã ou depois chegará vapor francês. Ando sempre sôfrego de
suas cartas. A impaciência é comparável a que tanto me fazia sofrer
como você recorda em uma de suas cartas. Por que havíamos de viver tão
longe um do outro? Se eu lhe aparecesse agora em Roma o que faria você?
Eu transporto-me até lá nas asas da minha imaginação e aqui lhe mando
tudo e tudo. Não se zangue comigo e console-me como quando me via aflito
na […].[1] Aperte a mão de
Seu amigo de sempre
Ainda aqui lhe mando as minhas saudades – como brotão e rebrotão!
.............................. ......................
Alcindo Sodré. Abrindo um cofre. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1956.
[1] N.E.: Palavra ilegível.
FONTE: Correio IMS.
D. Pedro II e a condessa de Barral: mais de 30 anos de amor e amizade.
Saiba mais sobre essa empolgante história em:
“Condessa de Barral – a paixão do Imperador“, de Mary del Priore. Rio de Janeiro, Editora Objetiva, 2006.
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