No
Rio de Janeiro, os jesuítas, por meio de seu Colégio, eram
administradores das fazendas e engenhos de São Cristóvão, do Engenho
Velho, do Engenho Novo, de Santo Ignácio dos Campos Novos, de Sant’Anna
de Macaé, dos Campos dos Goitacazes, da Papucaia de Macacu, do Saco de
São Francisco Xavier e de Santa Cruz. Já o Colégio de Córdoba era
responsável por uma série de fazendas, destacando-se dentre elas Santa
Catalina, Caroya, Jesus Maria e Alta Gracia.
Os
textos reunidos na obra são representativos de uma nova historiografia
brasileira e argentina e, quando analisados em conjunto, permitem a
identificação de alguns pontos a respeito da presença da Companhia de
Jesus nas duas áreas em questão. Optamos por não apresentar cada um dos
textos em separado para que o leitor possa, nesse momento, ter uma visão
geral da obra e de suas contribuições às discussões sobre a presença da
Companhia de Jesus no Brasil e na Argentina.
Uma
das conclusões apresentadas é a demonstração de que as
fazendas/engenhos/haciendas, apesar de estarem inseridas em espaços
geográ- ficos diferentes e submetidas a duas coroas católicas, possuíam
variadas semelhanças entre suas estruturas, na medida em que faziam
parte de um complexo maior que era o projeto missionário jesuítico.
Observam-se também as intricadas formas que os inacianos encontraram
para gerar riqueza, utilizando-se para isto das doações de terras e do
controle sobre a mão de obra indígena e negra em terras da América
portuguesa e espanhola. Os textos apontam ainda, para a existência de
conflitos entre os jesuítas e a sociedade que circundava as
fazendas/engenhos e as haciendas decorrentes de problemas locais,
principalmente o controle sobre a mão de obra indígena, mas também de
caráter mais amplo que envolviam decisões metropolitanas ou romanas.
A
partir do levantamento dos acervos das boticas das fazendas e das
bibliotecas afetas aos Colégios jesuíticos do Rio de Janeiro e de
Córdoba, foram evidenciadas formas de circulação de saberes relativos à
gestão de pessoas e de propriedades, bem como de práticas médicas entre
as distintas áreas de atuação da Companhia de Jesus, envolvendo estes
centros de formação instalados na Europa, no Oriente e na América. Um
outro grupo de textos sinaliza para as questões ligadas à administração
dos bens jesuíticos pelas Coroas portuguesa e espanhola no momento
posterior à expulsão, apontando inúmeras semelhanças e/ou diferenças na
ação de ambas as monarquias. Também identificam como se sucederam as
ações e práticas dos funcionários coloniais nomeados para administração
dos colégios do Rio de Janeiro e de Córdoba.
Num
apanhado geral do projeto, temos oito textos contemplando os colégios
jesuíticos de Córdoba e do Rio de Janeiro ao longo dos séculos XVII e
XVIII, trabalhados por dez autores de sete instituições diferentes. Num
esforço conjunto, buscou-se mapear os principais aspectos das histórias
de dois dos mais importantes colégios da América colonial. Importância
devida não só ao seu tamanho e relevância em diferentes 8 áreas da vida
cotidiana, mas também à sua representatividade para as histórias
econômicas das áreas em questão.
Além
disso, agrega-se valor pela infinidade de sendas abertas pelos textos
que buscam muito mais apresentar questões do que resolvê-las. Sabemos
que nenhuma história se esgota em uma obra, e por isso mesmo, a intenção
deste projeto foi, desde o início, indicar múltiplas possibilidades de
investigação a partir de um mesmo objeto, apontando para o diálogo entre
os que estudam facetas de uma mesma realidade.
A
viabilização de um projeto desta monta viria a contribuir, de modo
significativo, para o conhecimento das origens e das transformações que
estas duas áreas sofreram no curso de suas histórias. As atividades
econômicas da Companhia de Jesus revelam alguns indícios sobre a
história econômica da América portuguesa e da espanhola coloniais. O
papel dos ranchos e das fazendas jesuíticas deve ser pensado no bojo da
expansão da fronteira colonial, pois suas enormes extensões de terra
propiciaram a formação de barreiras contra invasões dos índios e suas
atividades comerciais ajudaram a cimentar e desenvolver vínculos
econômicos e comerciais com outros centros.
Percebe-se,
nos capítulos aqui apresentados, um conjunto de obras que se voltam, de
formas variadas, para a análise do papel econômico desempenhado pelos
religiosos da Companhia de Jesus, tema que é, em certa medida,
negligenciado pelos historiadores que analisam a presença desta ordem
nas Américas, principalmente, a portuguesa. Poucos são os historiadores
que apresentam questões referentes à administração dos bens jesuíticos.
Esse livro pretende, assim, contribuir para a diminuição desta quase
ausência temática a respeito do papel destes religiosos na capitania do
Rio de Janeiro e na Província Jesuítica do Paraguai.
"A Companhia de Jesus na América por seus colégios e fazendas Aproximações entre Brasil e Argentina (século XVIII)".
Marcia Amantino, Eliane Cristina Deckmann Fleck, Carlos Engemann (orgs.). Editora Garamond, 2015.
O lançamento será no dia 12 de novembro às 19 horas na livraria Blooks, em Botafogo, Rio de Janeiro.
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