Por muito tempo, a computação em nuvem foi uma promessa. Uma expressão da moda discutida pelo mercado de tecnologia. Sem trocadilho, quase “vaporware” (expressão usada pelo setor para designar produtos que não existem de fato). Nos últimos meses, entretanto, o mercado começa a acontecer de verdade.
Em dezembro, a Amazon Web Services, braço de serviços de internet da varejista virtual, desembarcou no Brasil. Neste mês, a IBM lançou o SmartCloud Enterprise (SCE), serviço de computação prestado a partir do centro de dados da empresa em Hortolândia (SP).
“Acreditamos que o potencial é muito grande”, disse José Luis Spagnuolo, diretor de cloud computing da IBM Brasil. No modelo de computação em nuvem, as empresas contratam recursos de hardware e software como serviços, prestados via rede.
Existem duas modalidades de computação em nuvem: a nuvem pública e a nuvem privada. Na nuvem pública, os recursos do prestador de serviço são compartilhados com vários clientes. Na nuvem privada (o que pode parecer uma contradição), a empresa aplica as tecnologias de computação em nuvem em sua própria infraestrutura de tecnologia, que passa a ser compartilhada entre os diversos departamentos.
Antes de lançar o serviço de nuvem pública no Brasil, a IBM já tinha essa oferta nos Estados Unidos, Europa e Japão. “Agora o serviço está em português, com imposto nacional, e pode ser contratado via web”, disse o diretor da IBM. Custa a partir de R$ 0,13 por hora de uso. Segundo a empresa, o serviço permite que os clientes economizem mais de 30%, quando comparado a modelos tradicionais.A empresa oferece servidores virtuais, armazenamento de dados, sistemas operacionais e outros softwares. Como a contratação é feita pela web, as empresas podem fazer simulações antes de definir a configuração e a forma de pagamento mais adequadas. “A contratação de infraestrutura como serviço é uma boa opção para empresas menores que buscam se expandir”, afirmou Spagnuolo. “Além de custar menos, é um modelo que permite um crescimento rápido.”Mercado. Segundo dados da consultoria IDC, citados pela IBM, cerca de 18% das médias e grandes empresas já usam alguma aplicação de computação em nuvem no Brasil. Até o ano que vem, esse porcentual deve passar para algo entre 30% e 35%. Em 2014, o mercado deve movimentar cerca R$ 1 bilhão.
Fora do Brasil, a Amazon costuma ser um dos principais provedores de serviço das empresas iniciantes de internet. Mesmo depois que elas crescem, como é caso do FourSquare, continuam por lá. No Brasil, a empresa tem clientes importantes como a Gol Transportes Aéreos e o site de compra coletiva Peixe Urbano.Em dezembro, quando lançou a empresa por aqui, Andy Jassy, vice-presidente sênior da AWS, disse que o interesse em estar no Brasil já vinha de bastante tempo. A empresa ficou cerca de um ano buscando funcionários e preparando sua presença local.
A AWS instalou um centro de dados em São Paulo para atender toda a América Latina. Com isso, foi possível, em primeiro lugar, reduzir a latência, que são os milissegundos que uma página demora para carregar ou alguma informação chegar via internet. Além disso, a presença local abriu para a AWS o acesso a clientes potenciais, como bancos, governos e seguradoras, que, por motivos regulatórios, não podem ter seus dados hospedados no exterior.
A AWS surgiu como uma forma de otimizar o uso da infraestrutura da Amazon. Para manter no ar o maior site de comércio eletrônico do mundo, é necessário investimento intensivo em tecnologia, e acaba existindo muito tempo ocioso, já que o dimensionamento é pelo pico da demanda.
Com a AWS, a Amazon conseguiu atrair empresas de outras áreas para essa infraestrutura, com picos de demanda em momentos diferentes de sua operação de comércio eletrônico. E usando o argumento de que, se eles conseguem manter seu site funcionando, seriam capazes de cuidar de quaisquer sites. Mas há outra explicação: “Resolvemos entrar num mercado de margens maiores”, disse Jassy, no ano passado. “As margens do varejo são bem apertadas.”
Operadoras de telefonia também entram no jogo
A computação em nuvem é um mercado que atraias operadoras de telecomunicações. Essas empresas costumam operar grandes centros de dados, e querem agregar outros serviços à conectividade que já oferecem às empresas. “A resposta vem sendo bem interessante”,afirmou Maurício Vergani, diretor de negócios corporativos da Oi. Aempresa lançou seus serviços de nuvem no começo de fevereiro, com o nome Oi Smart Cloud.
O foco inicial é oferecer capacidade de processamento e armazenamento de informações para grandes companhias. “Quando lançamos, achamos que o serviço teria mais apelo para as médias e grandes”, disse o diretor da Oi. “Mas percebemos que mesmo as muito grandes contratam serviços de nuvem, para o ambiente de desenvolvimento.”
Vergani não divulgou números, mas espera que os serviços de nuvem se tornem “bastante relevantes” para os negócios da empresa em cinco anos. “Nesse mercado, temos a vantagem de a cobrança ser por uso. E, se acontece algum imprevisto, o cliente prefere tratar com um fornecedor só.” A Oi tem oito data centers,eusou ainfraestruturaexistente para lançar os serviços.
Neste mês, a Telefônica fez um anúncio regional, lançando um serviço de hospedagem para a América Latina, voltado para grandes empresas eórgãos públicos, o VirtualHosting 2.0. A operadora tem data centers no Brasil, Argentina, Chile, Colômbia e Peru. Asolução adota tecnologia da Cisco e da VCE.
O analista Fernando Belfort, da Frost & Sullivan, disse que o segmento de infraestrutura como serviço é o mais aquecido no mercado brasileiro de computação em nuvem. “As ofertas de software como serviço são mais direcionadas a pequenas e médias empresas.” Um estudo da consultoria mostrou que dois terços das grandes empresas do País planejam investir em computação em nuvem este ano.
Sobre as iniciativas das operadoras, Belfort disse que fazem parte do esforço de buscar novas fontes de receita, num momento em que a voz fixa está em declínio. “A Telefônica/Vivo e a Oi são as empresas com as estratégias mais avançadas da região.”
O estudo da Frost & Sullivan revelou também que a maioria das grandes empresas brasileiras (44%) admite ter conhecimento apenas mediano da tecnologia, apesar de a computação em nuvem ser um dos conceitos mais discutidos no setor de tecnologia nos últimos anos. A principal preocupação das empresas, ao avaliar o serviço, ainda é a segurança. Depois, o preço.
No Estado de hoje (“Nuvem de gente grande” e “Operadoras de telefonia também entram no jogo”, p. N3).