segunda-feira, 26 de outubro de 2015

AGROdestaque entrevista Aldir Alves Teixeira
Profissional conta sua trajetória profissional e seu envolvimento com a área da qualidade do café

O Projeto AGROdestaque divulga as contribuições que o egresso da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (USP/ESALQ) realiza nas áreas de Ciências Agrárias, Ambientais e Sociais Aplicadas. Consiste em uma entrevista em formato ping-pong, na qual é possível obter informações sobre o egresso – breve currículo, demandas da área em que atua e opiniões acerca de aspectos relacionados ao mercado profissional.

Além da publicação nos sites da Escola (www.esalq.usp.br/acom/agrodestaque) e da Associação dos Ex-alunos da ESALQ (ADEALQ) (www.adealq.org.br/), o material é disponibilizado como sugestão de pauta aos veículos de comunicação da USP, de Piracicaba e região, bem como aos profissionais da mídia especializada.

Segue entrevista com o engenheiro agrônomo Aldir Alves Teixeira (F-1959)
Atuação profissional

Formei-me engenheiro agrônomo, em 1959, e obtive o título de Doutor em Agronomia, em 1972, pela ESALQ. Trabalhei na Seção de Classificação e Degustação de Café, da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, a partir de janeiro de 1960. De agosto de 1966 a novembro de 1983, prestei serviço junto ao antigo Instituto Brasileiro do Café. Reassumiu o cargo no Instituto Biológico, em dezembro de 83, e aposentei-me em 1992 no cargo de Pesquisador Científico nível VI. Em 1992, criei a empresa ASSICAFÉ e fui diretor até 2014. Sou membro e Coordenador de Qualidade da Câmara Setorial do Café, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, e Diretor Geral da Experimental Agrícola do Brasil, desde 2011, cargo que ocupo até hoje.

A que área ou setor se dedica atualmente? Descreva as atribuições do cargo que ocupa. Qual a importância delas para o mercado?

Sempre trabalhei na área da qualidade do café. Fiz os cursos de Classificador e Degustador de Café, de Café Solúvel e de Expresso, sendo que este como Classificador Super Senior, concedido pela empresa Illycafè, em Trieste, Itália. Em 1991, com a vinda do Dr. Ernsto Illy ao Brasil, fui convidado para organizar e presidir o Concurso de Qualidade de Café, hoje na 25ª versão. Desde 1991, a qualidade do café do Brasil mudou e passou a ser reconhecido como um produtor de qualidade. Até então, só era conhecido como fornecedor de Commodity. A ideia lançada, na época, foi de fazer um Prêmio de Qualidade, comprar diretamente do produtor e pagar um preço maior pela qualidade.

Quais os principais desafios desse setor?

Dar ensinamento e treinamento aos produtores brasileiros de como produzir café de qualidade.
Que tipo de profissional esse mercado espera?

Que se dedique a descobrir os porquês de como produzir um café de qualidade. Há necessidade de muita pesquisa nessa área.

Alessandra Postali

UNESP DISPONIBILIZA 20 CURSOS ONLINE GRATUITOS NA ÁREA DA EDUCAÇÃO

by marcia
A UNESP (Universidade Estadual Paulista) - por meio da Unesp Aberta - disponibiliza 20 cursos online e totalmente gratuitos, direcionados à área da Educação - em temáticas diversificadas.
Os cursos são livres e podem ser realizados por profissionais de todo o país. O grande diferencial é que como não há prazo definido para conclusão nem tutoria pedagógica, o interessado pode estudar de acordo com seu tempo disponível, concluindo o curso no seu ritmo. Conheça abaixo os 20 cursos gratuitos na área da Educação:
  • Conteúdos e didáticas de alfabetização;
  • Conteúdos e didáticas de artes;
  • Conteúdos e didáticas de ciências e saúde;
  • Conteúdos e didáticas de geografia;
  • Conteúdos e didáticas de educação física;
  • Conteúdos e didáticas de história;
  • Conteúdos e didáticas de língua portuguesa e literatura;
  • Tecnologia assistiva, projetos e acessibilidade promovendo a inclusão escolar;
  • Didática geral;
  • Educação e linguagem na educação infantil;
  • Educação e sociedade;
  • Educação inclusiva e especial;
  • Abordagens curriculares na educação infantil;
  • Diferentes formas de linguagem expressivas e comunicativas na educação infantil;
  • Ética e cidadania;
  • Filosofia da Educação;
  • Fundamentos e princípios da educação infantil;
  • Política educacional;
  • Psicologia da educação;
  • Sociologia da educação.

Inscrições e informações

Os profissionais interessados em realizar os cursos devem saber que não há prazo definido para início e término das inscrições; os cursos são disponibilizados durante todo o ano. Para ter acesso ao ambiente virtual e ao conteúdo, é preciso se cadastrar na plataforma Unesp Aberta (http://www.unesp.br/unespaberta): o cadastro é simples e exige apenas e-mail e senha. Uma vez logado no sistema, o aluno pode acompanhar os cursos e ter acesso aos diversos títulos de e-books disponíveis.
FONTE: Blasting News.
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Lançamento: “A Companhia de Jesus na América – por seus colégios e fazendas”

by marcia
No Rio de Janeiro, os jesuítas, por meio de seu Colégio, eram administradores das fazendas e engenhos de São Cristóvão, do Engenho Velho, do Engenho Novo, de Santo Ignácio dos Campos Novos, de Sant’Anna de Macaé, dos Campos dos Goitacazes, da Papucaia de Macacu, do Saco de São Francisco Xavier e de Santa Cruz. Já o Colégio de Córdoba era responsável por uma série de fazendas, destacando-se dentre elas Santa Catalina, Caroya, Jesus Maria e Alta Gracia.
Os textos reunidos na obra são representativos de uma nova historiografia brasileira e argentina e, quando analisados em conjunto, permitem a identificação de alguns pontos a respeito da presença da Companhia de Jesus nas duas áreas em questão. Optamos por não apresentar cada um dos textos em separado para que o leitor possa, nesse momento, ter uma visão geral da obra e de suas contribuições às discussões sobre a presença da Companhia de Jesus no Brasil e na Argentina.
Uma das conclusões apresentadas é a demonstração de que as fazendas/engenhos/haciendas, apesar de estarem inseridas em espaços geográ- ficos diferentes e submetidas a duas coroas católicas, possuíam variadas semelhanças entre suas estruturas, na medida em que faziam parte de um complexo maior que era o projeto missionário jesuítico. Observam-se também as intricadas formas que os inacianos encontraram para gerar riqueza, utilizando-se para isto das doações de terras e do controle sobre a mão de obra indígena e negra em terras da América portuguesa e espanhola. Os textos apontam ainda, para a existência de conflitos entre os jesuítas e a sociedade que circundava as fazendas/engenhos e as haciendas decorrentes de problemas locais, principalmente o controle sobre a mão de obra indígena, mas também de caráter mais amplo que envolviam decisões metropolitanas ou romanas.
A partir do levantamento dos acervos das boticas das fazendas e das bibliotecas afetas aos Colégios jesuíticos do Rio de Janeiro e de Córdoba, foram evidenciadas formas de circulação de saberes relativos à gestão de pessoas e de propriedades, bem como de práticas médicas entre as distintas áreas de atuação da Companhia de Jesus, envolvendo estes centros de formação instalados na Europa, no Oriente e na América. Um outro grupo de textos sinaliza para as questões ligadas à administração dos bens jesuíticos pelas Coroas portuguesa e espanhola no momento posterior à expulsão, apontando inúmeras semelhanças e/ou diferenças na ação de ambas as monarquias. Também identificam como se sucederam as ações e práticas dos funcionários coloniais nomeados para administração dos colégios do Rio de Janeiro e de Córdoba.
Num apanhado geral do projeto, temos oito textos contemplando os colégios jesuíticos de Córdoba e do Rio de Janeiro ao longo dos séculos XVII e XVIII, trabalhados por dez autores de sete instituições diferentes. Num esforço conjunto, buscou-se mapear os principais aspectos das histórias de dois dos mais importantes colégios da América colonial. Importância devida não só ao seu tamanho e relevância em diferentes 8 áreas da vida cotidiana, mas também à sua representatividade para as histórias econômicas das áreas em questão.
Além disso, agrega-se valor pela infinidade de sendas abertas pelos textos que buscam muito mais apresentar questões do que resolvê-las. Sabemos que nenhuma história se esgota em uma obra, e por isso mesmo, a intenção deste projeto foi, desde o início, indicar múltiplas possibilidades de investigação a partir de um mesmo objeto, apontando para o diálogo entre os que estudam facetas de uma mesma realidade.
A viabilização de um projeto desta monta viria a contribuir, de modo significativo, para o conhecimento das origens e das transformações que estas duas áreas sofreram no curso de suas histórias. As atividades econômicas da Companhia de Jesus revelam alguns indícios sobre a história econômica da América portuguesa e da espanhola coloniais. O papel dos ranchos e das fazendas jesuíticas deve ser pensado no bojo da expansão da fronteira colonial, pois suas enormes extensões de terra propiciaram a formação de barreiras contra invasões dos índios e suas atividades comerciais ajudaram a cimentar e desenvolver vínculos econômicos e comerciais com outros centros.
Percebe-se, nos capítulos aqui apresentados, um conjunto de obras que se voltam, de formas variadas, para a análise do papel econômico desempenhado pelos religiosos da Companhia de Jesus, tema que é, em certa medida, negligenciado pelos historiadores que analisam a presença desta ordem nas Américas, principalmente, a portuguesa. Poucos são os historiadores que apresentam questões referentes à administração dos bens jesuíticos. Esse livro pretende, assim, contribuir para a diminuição desta quase ausência temática a respeito do papel destes religiosos na capitania do Rio de Janeiro e na Província Jesuítica do Paraguai.
"A Companhia de Jesus na América por seus colégios e fazendas Aproximações entre Brasil e Argentina (século XVIII)".
Marcia Amantino, Eliane Cristina Deckmann Fleck, Carlos Engemann (orgs.). Editora Garamond, 2015.
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O lançamento será no dia 12 de novembro às 19 horas na livraria Blooks, em Botafogo, Rio de Janeiro.

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“O Mapa que inventou o Brasil”

by marcia

Programa com a pesquisadora e professora de história da Universidade Federal de Minas Gerais, Júnia Ferreira Furtado, sobre seu livro, "O Mapa que Inventou o Brasil". Na Obra, ela explica como se deu a conformação territorial do Brasil no século 18, quando Portugal e Espanha ainda se batiam para saber como era exatamente o continente sul-americano e como ficaria a divisão final do território entre as duas potências marítimas da Europa, acordada pelo Tratado de Tordesilhas que era ignorado havia mais de 150 anos . A chave para essa explicação está no mapa Carte de l´Amerique Meridionale, produzido pelo cartógrafo francês Jean Baptiste Bourguignon d´Anville, a pedido do embaixador português Dom Luís da Cunha, que serviu em Paris, nos Países Baixos e na Inglaterra e obteve as referências (cartas de colonos, aventureiros e religiosos brasileiros, relatos, medições, mapas e rascunhos de mapas) com as quais o cartógrafo produziu o mapa que viria a ser o mais próximo do que se tornou o Brasil atual.
Assista:
Fonte: Univesptv.
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A importância da cartografia na História.

Sapatos: das antigas chopines ao salto plataforma

by marcia

Em dias de Fashion Week, quando se fala muito de modas e tendências, vamos conhecer um pouco da história dos sapatos, que há séculos são verdadeiros símbolos de riqueza e status
     A guilda de sapateiros foi uma das primeiras a surgir na Inglaterra, sendo que seu primeiro regulamento data de 1272. Seu nome, The Guild Cordwainers, era uma corruptela de Córdoba, região da Espanha que produzia o melhor couro da época. Os calçados de bico fino e comprido estiveram na moda no final do século XIV. É importante destacar que os sapatos feitos de couro, para proteger os pés da lama e da neve, eram exclusividade dos mais ricos. Com o tempo, começou-se a usar também lã, o que os tornou mais acessíveis aos menos abastados.
No século XVI, principalmente no reinado de Henrique VIII (1509-1547), a aristocracia aderiu ao luxo e ao exagero na indumentária. O estilo dos sapatos mudara: os mais ricos chegavam a usar sapatos com solados de 17 centímetros de largura, em contraste com os bicos finos e longos do passado. Seda, veludo e brocados davam o tom de refinamento. As mulheres seguiam o estilo masculino nos pés, elas ainda não tinham uma moda exclusiva nesse aspecto. Maria Tudor (1553-58) teria mandado confeccionar modelos especialmente para ela, iniciando assim um novo hábito: slippers de veludo (que voltaram recentemente à moda), botinas para cavalgar, e sapatos de seda e veludo, com solado vermelho, para ocasiões formais.
   As chopines eram sapatos bastante extravagantes que foram moda entre a nobreza do século XVII: na verdade foram as ancestrais dos nossos queridos sapatos de saltos plataforma, que hoje acrescentam alguns centímetros às mulheres com relativo conforto. Mas, no século XVII, as chopines estava longe de serem confortáveis. Eram feitas de madeira e forradas com tecidos como seda e veludo (às vezes, couro), quase sempre abertas nos calcanhares. As damas, porém, exageravam na altura e há exemplares com 50 centímetros de altura, que são exibidos como peças de museu.
    A austera Rainha Elizabeth (1558-1603) usou o modelo em determinados períodos de seu longo reinado - parece que a soberana seguiu vários modismos enquanto governou os ingleses. A moda dos sapatos variava bastante entre os nobres, que gostavam de aderir às novidades. As chopines, que não possuíam o design anatômico, nem eram feitas com os materiais tecnológicos de hoje. Por isso, as damas das mais altas classes mal se mexiam e andavam menos ainda.
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Rainha Elizabeth: plataformas (chopines) altíssimas.

      No Brasil, os nossos nobres imitavam as modas europeias, principalmente as francesas e inglesas. Os mais abastados usavam sapatos bordados e de salto, com fivelas de ouro e prata. Meias de seda coloridas complementavam o visual. Botas e botinas de couro, com esporas de prata, também eram comuns entre os fazendeiros. Os mais pobres se contentavam com alpercatas, sandálias ou botinas grosseiras.Os escravos andavam descalços ou, mais raramente, com chinelas. - Texto de Márcia Pinna Raspanti.
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Debret: senhoras com sapatos delicados; escravas descalças.

Dois modelos de chopines (fins do século XVI), cobertos com tecidos adamascados.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
"Shoes", de Lucy Pratt & Linda Wooley, uma publicação do Victoria & Albert Museum (V&A Publishing), de Londres

As marcas da Inquisição em São Paulo

As marcas da Inquisição em São Paulo

by marcia
O período da Inquisição em Portugal (1536-1821) deixou marcas e vítimas em São Paulo. Ao contrário do que se pensa, houve, sim, Inquisição em São Paulo, inclusive com Visitação do Santo Ofício.
Fizeram-se fintas (cobrança de impostos) exclusivas a cristãos-novos, registraram-se ondas de denúncia e caça aos judaizantes. Paulistas e parentes seus, tanto em São Paulo como em outras partes do Brasil ou de Portugal, foram jogados aos porões da Inquisição. Alguns acabaram executados ou levados à loucura por não compreenderem o ‘crime’ que tinham praticado, outros morreram por tortura ou por doenças adquiridas pelas condições insalubres dos cárceres.

Lançamento: Cristãos-novos em São Paulo (séculos XVI-XIX): assimilação e nobilitação, de Marcelo Meira Amaral Bogaciovas, com prefácio de Mary Del Priore. São Paulo: ASBRAP, 2015.
Em Portugal o livro será comercializado pelo Geneall. No Brasil, o livro será vendido, no dia do lançamento, 7 de novembro, ao preço especial de R$ 50,00. Após essa data: R$ 55,00, mais despesas do correio (para o Brasil). O livro poderá ser adquirido através do e-mail: contato@asbrap.org.br.
O lançamento será em 7 de novembro, das 9 às 17 horas, no Mosteiro de São Bento, no centro da cidade de São Paulo, durante o Simpósio sobre a documentação do Tribunal do Santo Ofício: Suporte para a pesquisa genealógica e atribuição de cidadania portuguesa aos descendentes de cristãos-novosEntrada gratuita.
O acervo da Biblioteca Genealógica da ASBRAP (Associação Brasileira de Pesquisadores de História e Genealogia) está disponível ao público no Mosteiro de São Bento, em São Paulo. Veja a relação do acervo na página: http://www.asbrap.org.br/instituc/relacaodoacervodabibliotecagenealogicadaASBRAP.htm.

História: Escravidão nas Américas - Rafael de Bivar Marquese

domingo, 25 de outubro de 2015


As leis suntuárias e a roupa da morte

by marcia
A roupa, na sua forma, cor e substância significou, durante o Antigo Regime, ou seja, entre os século XVI e XVIII, uma condição, uma qualidade, um estado. Não havia dúvidas quanto a isso. Instrumento de regulação política, social e econômica as “leis suntuárias” existiam para manter visíveis os níveis sociais de quem se vestia. O luxo de tecidos e bordados era apanágio da aristocracia. Seus membros não podiam ser confundidos com os das camadas emergentes. Codificando cortes, materiais, tinturas, ela garantia marcas de poder, intensificando-lhes o brilho. Semelhante ao que ocorre, hoje, com o uso de roupas de griffe? Não. Muito mais rígido.
A roupa, entre os séculos XV e XVIII tinha um papel político-social. Ela funcionava como signo de hierarquização, de fixidez ou de mobilidade dos grupos. Um exemplo? Em Portugal, judeus, tinham que usar uma carapuça amarela e mouros, uma lua de pano vermelho de quatro dedos, “cosida no ombro, na capa e no pelote” segundo o código português de leis conhecido como Ordenações Filipinas, promulgado em 1603 e que vigorou ativamente no Brasil até 1830. Outro exemplo para que possamos perceber a que ponto tal legislação era restritiva, diz respeito as roupas que se podia ou não, usar durante o luto, chamado então, dó:
“Quando a alguma pessoa falecer pai ou mãe, ou outro ascendente ou filha, ou outro descendente, sogro ou sogra, genro ou nora, ou cunhado, poderá trazer por dó capuz, tabardo ou loba cerrada por tempo de um mês somente, e não serão de mais comprimento que até os artelhos, e daí por diante poderá trazer capa aberta de dó  que não passa de meia perna [...] e os pelotes e roupetas  que trouxerem por dó não serão mais compridas que até cobrirem os joelhos, e não trarão neles, mangas largas”.
O tabardo era uma capa, capote e casacão com capuz e manga. Loba era um tipo de vestido com túnica aberta, sem mangas, que se sobrepunha pela frente e a roupeta, uma veste mais estreita, como a túnica dos jesuítas. Como se pode observar, a imobilidade das linhas, correspondia à imobilidade que se esperava de quem estivesse triste e chorando a partida dos seus. Tais leis suntuárias funcionavam? Sabemos que elas mais freavam, do que impediam o porte de determinadas vestimentas ou tecidos por quem não devia. Um exemplo? Nos finais do século XVII, durante o reinado de Luís XVII, chegou-se a cercear, de acordo com o nível social, a grossura dos galões ou a matéria dos botões. Restritos ao uso masculino, os botões só então passaram a ser usados pelas mulheres, antes obrigadas a manusear um sem número de laços e fitas para fechar suas vestimentas. Mas não há dúvidas de que com a emergência da burguesia e o declínio do feudalismo, têm início a corrida pelo desejo de consumo. Até então as qualidades vestimentares femininas eram baseadas na modéstia e na moderação, como pregava a Bíblia.
No século XVIII tudo se precipita. A gestão das rivalidades entre cortesãos escapa progressivamente aos soberanos e a moda que, desde o Renascimento, parecia ter tendências seculares, adquire sua acepção moderna de tendência passageira, de gosto coletivo e efêmero. É essa, pelo menos, a definição que lhe é dada, em 1690, num dicionário francês. Viajantes estrangeiros de passagem por Paris, ficavam bestificados com o número de boutiques e casas de comércio que ofereciam seus serviços para quem quisesse estar na moda. Cabeleireiros, peruqueiros, sapateiros, tintureiros, perfumistas, bordadeiras, costureiras, lavadeiras, joalheiros, enfim, os mais variados comerciantes eram responsáveis pela multiplicação de conceitos: beleza ou feiura, elegância ou ridículo. Tais prestadores de serviços, eram chamados de “petit-maîtres”, pequenos mestres, pois haviam até especialistas capazes de incrustar insetos microscópicos em joias ou pedras raras em madeiras de cheiro utilizadas na confecção de botões, presilhas  e pentes.- Texto de Mary del Priore. ("Corpo a Corpo com a Mulher", Ed. Senac, 2000).

segunda-feira, 12 de outubro de 2015


Digitalização de documentos da ditadura revela canções inéditas

by marcia
RIO — Uma equipe de 12 pesquisadores do Arquivo Nacional desde o início do ano está levando a cabo um projeto de valor imensurável para a memória da música popular brasileira: a organização e digitalização de todo o acervo musical submetido à censura. Perdidas entre cerca de 77 mil documentos do Serviço de Censura e Diversões Públicas, arquivados pela Polícia Federal de 1968 a 1988, período em que vigorou a censura no regime militar, estão letras esquecidas de artistas como Djavan, Aldir Blanc e Jorge Mautner,entre outros registros valiosos aos quais O GLOBO teve acesso com exclusividade.
Custeado pelo BNDES, o projeto prevê a disponibilização de todo esse acervo ao público pela internet a partir do ano que vem, quando será concluído, facilitando a realização de inúmeras pesquisas acadêmicas, documentários e biografias. No garimpo, os técnicos encontraram as jusitificativas para as proibições de Aldir Blanc (“Antes e depois”, censurada por apresentar “conteúdo erótico”) e Jorge Mautner (“Papoulas e arco-íris”, vetada pelo conteúdo “alienado, extraterrestre”), além de pareceres curiosos sobre letras de Egberto Gismonti e Geraldinho Carneiro (“Corações futuristas”) e Nelson Motta (“Boa viagem”)
Leia a reportagem completa de "O Globo":

Dia das Crianças: a infância no Brasil de antigamente

by marcia
Um dos aspectos mais interessantes da infância no passado era, sem dúvida, o relacionamento afetivo entre pais e filhos. Observado por vários viajantes, ele era considerado excessivo: “O carinho dos pais pelos filhos, enquanto pequenos chega a não ter limites, e é principalmente o pai quem se ocupa com eles, quando tem um minuto livre. Ama-os até a fraqueza e, até certa idade, atura as suas más criações. Não há nada que mais o moleste do que ver alguém corrigir seu filho. Quando marido e mulher saem de casa, seja para visitarem uma família, seja para irem a alguma festa, levam consigo todos os filhos, com suas respectivas amas, e é ainda o pai quem carrega com todo o trabalho, agarrando-se-lhe os pequenos ao pescoço, às mãos, ás abas do casaco”.  Mas “estremecer sobre os filhos, contar estórias, graças, acalentá-los”, como dizia - se, no século XVIII, era considerado coisa de mulher: “Não é coisa pertinente a um homem ser ama nem berço de seus filhos” resmungava o médico Francisco de Melo Franco.
O amor materno, por seu turno, deixou marcas indeléveis nos testamentos de época. Não havia mãe que ao morrer não implorasse às irmãs, comadres e avós, que “olhassem” por seus filhinhos, dando-lhes “estado”, ensinando-lhes “a ler, escrever e contar” ou “a coser e lavar”. A expressão “amor materno” pontua vários destes documentos, revelando a que ponto as mães, no momento da despedida, não tinham os corações carregados de apreensão, temerosas do destino dos seus dependentes. A ama negra, como lembra Gilberto Freyre, deu também sua contribuição para enternecer as relações entre o mundo adulto e o infantil. Criou uma linguagem  na qual se reduplicavam as sílabas tônicas dando às palavras pronunciadas um especial encanto: dodói, cacá, pipi, bumbum, tentem, dindinho, bimbinha. Com tantos mimos, o risco era da criança ficar mole e bamba, cansada e amarela. Padre Gama, já na virada do século XIX voltava a carga contra a criança criada entre resguardos de mães extremosas e amas negras. “O mulequinho quebra quanto encontra”, informa. “E tudo é gracinha; já tem 7 e 8 anos mas não pode ir de noite para cama sem dormir o primeiro sono em o regaço de sua yayá que o faz adormecer balanceando-o sobre a perna e cantando-lhe uma embirrante enfiada de chácaras e cantilenas monótonas do tempo do capitão Frigideira”. Os mimos em torno da criança pequena estendiam-se aos negrinhos escravos ou forros vistos por vários viajantes estrangeiros nos braços de suas senhoras ou engatinhando em suas camarinhas. Brincava-se com crianças pequenas como se brincava com animaizinhos de estimação. Mas isto não era privilégio do Brasil. Nas grandes famílias extensas da Europa ocidental, onde a presença de crianças de todas as idades e colaterais era permanente, criava-se uma multiplicidade de presenças que não deixavam jamais os pequeninos sós. E esses eram tratados pelos mais velhos como verdadeiros brinquedos, da mesma forma, aliás, como eram tratados os filhos de escravos entre nós: engatinhando nas camarinhas de suas senhoras, recebendo de comer na boca, ao pé da mesa, como os retratou Debret. Tais carinhos exagerados ou “os mimos maternos” eram, contudo, vistos por moralistas setecentistas, como o baiano Nuno Marques Pereira como causa para “deitar a perder os filhos”. A boa educação implicava em castigos físicos e nas tradicionais palmadas.
O castigo físico em crianças não era nenhuma novidade no quotidiano colonial. Introduzido, no século XVI, pelos padres jesuítas, para horror dos indígenas que desconheciam o ato de bater em crianças, a correção era vista como uma forma de amor. O “muito  mimo” devia ser repudiado. Fazia mal aos filhos. “A muita fartura e abastança de riquezas e boa vida que tem com ele é causa de se perder” admoestava em sermão José de Anchieta. O amor de pai devia inspirar-se naquele divino no qual Deus ensinava que amar “é castigar e dar trabalhos nesta vida”. Vícios e pecados, mesmo cometidos por pequeninos, deviam ser combatidos com “açoites e castigos”. A partir da segunda metade do século XVIII, com o estabelecimento das chamadas Aulas Régias, a palmatória era o instrumento de correção por excelência: “nem a falta de correção os deixe esquecer do respeito que devem conservar a quem os ensina”, cita um documento de época. Mas, ressalvava, endereçando-se aos professores: “e tão somente usarem  dos golpes das disciplinas ou palmatórias quando virem que a repreensível preguiça é a culpada dos seus erros e não a rudez das crianças a cúmplice de sua ignorância”.
As violências físicas, muitas vezes dirigidas às mães, atingiam os filhos e não foram poucas as famílias que se desfizeram deixando entregues ao Deus dará, mães e seus filhinhos: fome, abandono, instabilidade econômica e social deixaram marcas em muitas das crianças. Não são poucas as que encontramos, nos documentos de época, esmolando às portas de igrejas, junto com suas genitoras. Um processo crime datado de 1756, movido na vila de São Sebastião, São Paulo, por Catarina Gonçalves de Oliveira revela imagens de outras violências: a de pais contra filhos. Nos autos, Catarina revela ter defendido seu enteado, uma criança pequena, de chicotadas desferidas pelo pai, ansioso por corrigir o hábito do pequeno de comer terra. As “disciplinas”, os bolos e beliscões revezavam-se com as risadas e mimos. Mas também com divertimentos e festas.
Nas escolas jesuíticas o lazer ficava por conta do banho de rio e no “ver correr as argolinhas”. Tradição lusa antiquíssima, essas consistiam em uma forma de “justa” na qualquer se deixava pender de um poste ou árvore enfeitada, uma argolinha que devia ser tirada pelo cavaleiro em disparada. “Ensina-mo-lhes jogos que usam lá os meninos do Reino - conta, entusiasmado, o padre Rui Pereira em 1560 - Tomam-nos tão bem e folgam tanto com eles que parece que toda sua vida se criaram nisso”. Brincava-se, também, com miniaturas de arcos e flechas ou com instrumentos para a pesca. Outras brincadeiras: o jogo do beliscão, o de virar bundacanastra, o jogo do peia-queimada além de ritmos, cantos, mímicas feitos de trechos declamados e d e  movimentação aparentemente  livre mas repetidora de um desenho invisível e de uma lógica misteriosa e mecânica. Piões, papagaios de papel e animais, gente e mobiliário reduzidos, confeccionados em pano, madeira ou barro, eram os brinquedos preferidos. A “musicaria” atraía loucamente: crianças indígenas adoravam  instrumentos europeus como a gaita ou o tamboril que acompanhavam, segundo os cronistas jesuítas, ao som de maracas e paus de chuva. A participação em festas com música atraíam crianças de todos os grupos sociais. Alegrando procissões, enfeitados com carapuças cobertas de pedrarias e flores, participavam a coreografias e cantos em homenagem a determinado santo da Igreja católica ou em homenagens aos governadores recém-chegados de Portugal.
Na famosa festa mineira, o Triunfo Eucarístico, realizada em 1734 em Vila Rica, “onze mulatinhos” vestidos como indígenas, enfeitados com saiotes de penas e cocares, levando nas pernas, fitas e guizos, cantaram ao som de tamboris, flautas e pífaros, bailando uma “dança dos carijós”. Festas do calendário tradicional como São João ou Reis, animavam as crianças que iam pular fogueira, subir em mastros e com a invasão dos fogos de artifício, no século XVIII, soltar rojões e estrelinhas. Coadjuvantes nos autos de Natal participavam, devidamente enfeitados como anjinhos ou pastores, e vinham vestidos de estopinha branca, chapéu de palha fabricado com palmas de ouricuri, enfeitado de fitas, tendo a copa coberta de algodão com enfeites de velbutina preta, cajado de fitas, cesta com flores no braço e pequeno pandeiro de folha de Flandres. Debret, de passagem pelo Rio de Janeiro, impressionou-se e reproduziu uma destas crianças, verdadeiro personagem das atuais escolas de samba, vestido com cocar de plumas, joias falsas e figurino sofisticado. - Texto de Mary del Priore