domingo, 22 de novembro de 2015

A insurreição da Aliança Nacional Libertadora em 1935

by marcia
A insurreição armada de militares integrantes da Aliança Nacional Libertadora (coalizão apartidária, formada pelas mais diversas lideranças, a favor da democracia e pela emancipação do povo brasileiro de forças fascistas e do jugo estrangeiro), em novembro de 1935, passou à história do Brasil como um dos principais fatos políticos do século XX. Em 27 de novembro de 1935, militares rebelados no Rio de Janeiro tomaram o 3º Regimento de Infantaria na Praia Vermelha e a Escola de Aviação Militar no Campo dos Afonsos. Foram derrotados após uma luta sangrenta e muitos rebeldes foram presos. Iniciou-se, então, o longo processo de que dá conta o Relatório Bellens Porto, que é a peça inicial da ação criminal e a prova da repressão odiosa que marcou época na história das lutas brasileiras. A versão da polícia, de que o principal objetivo da ANL era realizar um golpe comunista, predominou até recentemente.
A partir da década de 1960, entretanto, graças ao trabalho árduo e corajoso de historiadores como, Nelson Werneck Sodré, Moisés Vinhas, Hélio Silva e Marly A. G. Vianna, a realidade dos fatos ocorridos aos poucos abriu caminho e se impôs nos meios universitários, para depois se espalhar entre os círculos democráticos. O Relatório Bellens Porto reflete, naturalmente, a ideologia e os interesses da polícia política, mas contém fartura de informações valiosas, registradas com relativa objetividade. Documento raro, o Relatório Bellens Porto interessa tanto a pesquisadores das áreas das Ciências Humanas, em especial à História, à Política e à Sociologia, como também a todos os que se interessam pela história política nacional.
Para marcar os 80 anos do levante, será realizado um debate sobre o Relatório Bellens Porto, no dia 27 de novembro, no Rio de Janeiro. E duas conferências o sobre o evento, dias 25 e 26, em Santo André e São Paulo, respectivamente. Confira os detalhes abaixo:
A Insurreição da ANL_IAB (1)convite web ANL 80 anos
marcia | novembro 22, 2015 às 2:20 pm | Tags: ANL, governo Vargas, Intentona Comunista,levante | Categorias: História do Brasil | URL: http://wp.me/p41DOU-22R

Quem quer ser fidalgo?

by marcia

Por Andrew Amaral.
Château de Chambord, França, 1670. Diante da corte do Rei Sol, o ballet-comédie Le Bourgeois gentilhomme (traduzido para o português como “O Burguês Fidalgo”), da autoria de Molière, com adaptação musical de Jean-Baptiste Lully[1], é apresentado à corte, que se deleita com a dupla encenação de Monsieur Jourdain, um burguês que a todo custo quer torna-se fidalgo. Dupla encenação, pois se tratava de uma representação teatral, e segundamente por ser improvável, para o contexto de então (Ancien Régime) um membro da burguesia ascender à nobreza.
“A peça se passa inteiramente na casa do personagem principal, em Paris. O pouco inteligente Jourdain, um burguês de meia idade cujo pai enriqueceu como comerciante de tecidos, tem como única meta na sua vida ascender de seu status como membro da classe média e ser aceito como um cavalheiro aristocrata. Para conseguir isto, encomenda roupas esplêndidas (e se deleita, ingenuamente, quando o ajudante do alfaiate o chama, de maneira sarcástica, de "meu Senhor"), e se empenha para aprender as artes cavalheirescas da dança, música, filosofia e esgrima, apesar de sua idade já avançada; em suas tentativas acaba sempre por fazer um papel ridículo, para o desgosto de seus professores. Numa cena célebre, sua aula de filosofia acaba se transformando numa lição básica de francês na qual ele se surpreende ao descobrir que falou em prosa por toda a sua vida sem nem o saber”[2].
 Não indo tão longe, sem nos esquecermos de que já tivemos (ou ainda temos?) uma nobreza tupiniquim, interessante é analisar a forma que a mesma surgiu, seu contexto, e quem eram os ilustres membros dessa classe opulenta, que remonta as glórias dos reinos europeus.
Nestas terras brasílicas, será Dom João VI, com o advento do traslado da Coroa para o Brasil, que notabilizará os primeiros brasileiros, fazendo surgir assim à primeira remessa de nobres genuinamente tupiniquins. Entretanto, por tratar-se de um contexto português, pois o Brasil não passava de colônia, e vindo, posteriormente, compor o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves; assim sendo, tais títulos tiveram por origem a Coroa Portuguesa, e não ao Império Brasileiro, que viria a se formar em 1822.
De 1822 até 1889, ao longo dos dois reinados (Pedro I e Pedro II), foram criados 1211 títulos de nobreza: 3 ducados, 47 marquesados, 51 condados, 235 viscondados e 875 baronatos. Entretanto o número de agraciados não passou de 980, visto que alguns possuíam mais de um título.
O inicio da nobreza tupiniquim, como já dito, remonta a chegada de Dom João VI. E a inusitada transferência de domínio, como já sabemos, se deu de uma forma bastante improvisada. Não havia no Rio de Janeiro, sequer acomodações para tanta gente. O país, aliás, a colônia, ostensivamente agrícola, não possuía o conforto necessário a oferecer a uma gama de gente acostumada a palácios e regalias. Assim sendo, Dom João VI usou da prerrogativa de outorgar títulos de nobreza e honrarias como instrumento politico e material, para , digamos, poder se “acomodar” mais confortavelmente à nova sede do Império. E não nos esqueçamos de que com ele, aproximadamente, 15 mil pessoas, entre nobres, funcionários públicos de alto escalão, eclesiásticos e servidores da casa real, desembarcaram no Brasil. O trunfo que Dom João VI tinha às mãos, era a prerrogativa de outorga de benefícios que notabilizariam a pequena aristocracia da colônia. Foi a união do “útil ao agradável”. Quem por alguns vinténs não queria se tornar fidalgo?
Dantes, em Portugal, uma longa lista de exigências tinha que ser atendida para que fosse possível a concessão de honrarias e títulos de nobrezas. Exigências que começavam desde não ter sangue infecto (isto é, os que aspiravam à nobreza não podiam ser descendentes de judeus, cristãos-novos ou mouros), e nenhum antepassado poderia ter exercido função mecânica (ter trabalhado em manufatura, como: sapateiro, lavrador, cozinheiro, etc; enfim quaisquer profissões que fossem consideradas inferiores pelo ofício régio).
Para tornar-se nobre no Brasil Imperial, tudo começava com uma lista de indicações, que era apresentada todo ano ao Imperador, elaborada pelos membros do Conselho Régio, com sugestões de personalidades públicas, como os presidentes das províncias, senadores e altos dignitários do Império. Os títulos e honrarias eram, normalmente, atribuídos a quem tivesse um considerável histórico de serviços públicos prestados, e tivesse servido, indiretamente, como testificador de poder político, uma vez que era concedido a pessoas que exerciam grande influência regional. Importante ressaltar que para ingressar na nobreza, era necessário que o “agraciado” desembolsasse uma grande quantia para registro e validação de seu título. O valor variava do status de cada título, assim sendo de barão até duque o valor poderia quadruplicar.
Bem diferente do contexto europeu, principalmente da época de Luiz XIV, a nobreza brasileira era, em grande parte, oriunda de uma classe sem status pregresso, de um berço que remonta os colonizadores, e que constituiu fortuna com base no trabalho escravo e na produção agrícola.
Muitos que almejavam um pouquinho de glória terrena, a conquistaram a custa de pequenas fortunas e outros a mercê de grandes serviços públicos. Se eram, semanticamente, nobres no mais puro sentido da palavra, não nos cabe julgar, entretanto, não faltou disposição da Coroa em forjar uma nobreza nacional.
Exceções, em todos os sentidos, existiram, desde aqueles que indubitavelmente mereceram todo valor que um título de nobreza agrega, tais como o aclamado Duque de Caxias, entre outros muitos militares, políticos e fazendeiros, bem como os que se valeram de sua fortuna para construir um ideal de nobreza bem sui generis.
O velho ideal prega que em uma República o valor dos homens é atribuído não a seu status, ou a questões de nascimento, mas as suas ações. Muitos se esquecem, entretanto, que uma Monarquia pode ser uma República, no sentido mais amplo possível, e nem por isso o sistema ou forma de governo fará com que seus patrícios sejam mais ou menos nobres. Ainda prefiro o ideal montesquiano, de que numa monarquia vale mais a honra do que a vida, pois a honra emerge sobre os séculos, a vida, entretanto, é um mero e efêmero momento de se buscar aquilo que é eterno e vinculante... A imortalidade, através do louvor e da memória daquela que é a maior de todas as formas de notabilizar, a glória.
Dica: Para consultar os nomes, e breve histórico, de todos os agraciados com títulos de nobreza no Brasil Império, basta acessar o link:
NOTAS;

[1] compositor francês de origem italiana, que passou a maior parte de sua vida trabalhando na corte de Luís XIV de França.
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D. João V de Portugal, de Pompeo Batoni.

A festa da Botada ou da Moagem

by marcia

A festa da Botada marcava o início da moagem da cana de açúcar nas fazendas do Nordeste. Sem que o padre benzesse o canavial, ninguém, homem livre ou escravo, ia começar sua tarefa. Se algum acidente sobreviesse, seria explicado como justo castigo de céu. Falta de fé, de observância religiosa.
A casa de vivenda, a do engenho, os paióis, as senzalas eram caiados e limpos.Quinze dias antes da moagem, cortavam-se as canas que chegavam em carros de bois e ficavam sob alpendres ou em depósitos especiais. De véspera, enfeitava-se a casa da fazenda e demais construções. No terreiro, as bandeiras flutuavam nas extremidades de bambus verdes. Matava-se um boi para o banquete dos senhores, e carneiros e galinhas para a refeição dos escravos. Os compadres e amigos, vindos de longe com suas famílias, chegavam um dia antes. Foreiros ajudavam escravos nos preparativos da música e dos fogos.
No dia da Botada, visitantes acorriam sobre carros de bois, amontoados
sob toldos de esteiras ou de chitão lavrado. Muitos vinham a pé, descalços, trazendo os sapatos ao ombro. Ouvia-se o engenho moendo com prazer. Nesse dia, com exceção da gente envolvida com a festa, ninguém mais trabalhava. Os escravos batucaram depois do jantar. Os foreiros cantavam e dançavam. As músicas faziam referência ao corte da cana, à moagem e ao preparo do açúcar.
O fazendeiros presenteavam as crioulas e mulatas de estimação com cortes
de chita ou de cassa, fios de corais e brincos de ouro. Depois da missa, a família, os convidados e alguns escravos seguiam para o engenho. Velas acesas eram colocadas perto dos cilindros sobre a plataforma que sustentava as canas, junto com uma imagem de Nosso Senhor na cruz. O padre com breviário lia várias orações e, em certos momentos, com um ramo de arbusto, aspergia água benta no engenho e os presentes.
- Texto baseado em "Beije-me onde o sol não alcança", de Mary del Priore. Editora Planeta, 2015.
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O velho imperador e a Proclamação da República

by marcia
Manhã de 15 de novembro, Petrópolis: a serra se despia da neblina. Tudo era frescor, calma e tranquilidade. A temporada de verão, com seus bailes de caridade e leilões de prendas beneficentes no Palácio de Cristal, não começara ainda. As hortênsias cresciam no parque do palácio sob os olhos do homem que um diplomata descreveu como: “alto, um tanto grosso, de barba longa e basta, já branca, passos lentos, finas maneiras... trajava habitualmente, desde as primeiras horas da manhã, casaca preta. Na lapela, brilhava o “Tosão de Ouro”, condecoração excepcional ligada às Cruzadas contra os mouros, e da qual dizia-se ter pertencido ao imperador Carlos V. Bem cedo, ele deixara as salas mobiliadas modestamente, com paredes caiadas e móveis de assento de palhinha. Saia para suas duchas matinais, no estabelecimento fundado por um francês na rua Nassau. Era o remédio ideal para a artrite que o dobrava de dor. Mas não só. Banhos eram sinônimos de limpeza exemplar. Limpeza com a finalidade, segundo os médicos, de reforçar os recursos orgânicos. Limpeza legitimada pela ciência: era preciso se lavar para melhor se defender. O resultado não só o deixava mais limpo, mas, era moralmente eficaz. A ducha afastava micróbios não vistos a olho nu. Ao acelerar a oxigenação, ela favorecia a destruição dos males. Ao facilitar a combustão, agilizava as imunidades, caçando, como um perdigueiro, as bactérias nocivas. Necessário tonificar o organismo, trabalhar os músculos, acelerar a circulação do sangue, ativando energias. Afinal a pele respirava participando da defesa química do corpo. A água lavava e levava também os maus pensamentos. Assim como as máquinas exigiam a limpeza freqüente de suas engrenagens e a eliminação das escórias, também o corpo humano, uma máquina tão delicada, carecia da expulsão regular de dejetos. A sujeira entre outros.
Os banhos: a água escorrendo sobre a pele, o sabão de Houbigant misturando seu odor ao dos cremes e talcos: uma sensação. Gestos simples e íntimos repetidos no cenário anônimo, copiado das duchas populares em uso em Paris. O chão liso de cimento e zinco, o jato de água dirigido sobre o corpo. Nada de banheiras ou alongamento dentro da água. Era uma ducha sanitária como tantas que se multiplicaram na França, durante o mesmo século. Nus, os homens passavam em fila. Era o chamado banho de chuva, absolutamente funcional. Lá ou cá na serra, se homenageava a Louis Pasteur, sob os jatos e chicotes d´água, assim como à sua teoria germinal das doenças infecciosas. Pasteur, seu amigo a quem visitara em Paris e que mantinha um busto dele, o imperador, no escritório.
Limpo e fortalecido ele deixava os banhos. No caminho feito a pé, o velho senhor cumprimentava os passantes com um gesto cortes. As crianças o rodeavam. Ganhavam moedinhas com a sua efígie. No dia anterior estivera na Corte, para assistir ao concurso da cadeira de inglês no Colégio Pedro II. Assistir concursos era um dos seus hábitos. Será que dormitara, mais uma vez? Sentia tanta e tão incômoda sonolência. “Andar assim caindo de sono e dormindo em pé cansa o cérebro e V. deve cuidar mais na sua saúde”, dizia-lhe sua amada amiga, a condessa de Barral. Cansado ou não, não vira qualquer sinal de tumulto. À noite se debruçara sobre estudos da língua tupi, que julgava, – segundo escreveu a Teresa da Baviera, sua prima – ter relações com as línguas asiáticas. Tudo calmo. Por isto mesmo, ignorou o telegrama que lhe foi entregue por seu criado particular, ao se levantar. Nele, Ouro Preto o tranqüilizava. Sim, algo estava acontecendo de anormal, mas, o presidente do conselho de ministros ia tomar providências para conter os insubordinados e fazer respeitar a lei.
D. Pedro II refletiu: não seria a insubordinação de uns poucos que o faria descer a serra. Mas intuição ou não, na saída da Casa de Banhos, o Imperador andou até a estação onde perguntou se poderia obter um trem em caráter emergencial. “- Sim, Vossa Majestade”, respondeu-lhe o funcionário. Ás onze horas, chega-lhe outro telegrama. O segundo. Ouro Preto lhe participava a destituição do ministério pela tropa revoltada. Alarme. “ –Vim ao Rio para que se resolvesse o que fosse aconselhado” – diria D. Pedro, mais tarde. Tomou, então, o trem com a imperatriz, serra abaixo.
Já dentro do vagão, da ampla janela de vidro, o imperador descortinava os tons cor de rosa do fundo da baía de Guanabara. A Coroa do Frade e o Escalavrado, longa aresta livre de vegetação tal como o dorso de um animal pré-histórico, deslizava para trás na paisagem. O resfolegar da locomotiva Baldwin embalava seus pensamentos pelos 15,9 quilômetros de estrada, construída pelo barão de Mauá, que o levaria rapidamente até a Guia de Pacobaíba e de lá, em ferry, até a Corte.  Ao ritmo da moderna estrada de ferro, tentava ordenar os pensamentos. “Nós dormimos sobre um vulcão...os senhores não percebem que a terra treme mais uma vez? Sopra o vento das revoluções, a tempestade está no horizonte”. De quem eram estas palavras? Ah, sim... De léxis de Tocqueville, anunciando as revoluções republicanas na Europa. Mas elas teriam, finalmente, atravessado para estes lados do Atlântico?  A melancolia descia sobre o seu semblante, enquanto a neblina subia dos grotões verdes, sugada a esta hora do dia, em direção ao céu. Com a larga testa encostada no vidro ia pensando: “Pedro Banana”, “Pedro Bobeche”, “Pedro Caju”, “o César caricato”. “Aquele que era senhor de um império e que hoje não é nem senhor de si”, acusou alguém num discurso na Câmara. A imprensa andava impossível. As caricaturas eram implacáveis. Circulavam na Corte cerca de meia dúzia de jornais satíricos, semanais, que vendiam até 10.000 exemplares. Revistas, então? Mais de vinte. A Ilustrada vivia até de assinaturas! As sátiras eram um ultraje que suas idéias liberais tinham que suportar.  Não se reconhecia nas imagens do velho dorminhoco, do barbudo a olhar as nuvens por uma luneta, distante da realidade. Mesmo seu interesse pelas línguas mortas, a arqueologia, a astronomia, a literatura comparada, ciências que o colocavam entre os grandes do Velho Continente eram motivo de riso junto com suas pernas finas e voz estridente. Bem que a Barral o prevenira. “Quanto aos escandalosos folhetins, isso deveria levar a chicote e se um dia não se punir severamente libelistas, não sei onde irá parar a realeza”? Houve ainda um mau presságio, um aviso: ao abrir este ano o parlamento, ao se sentar no trono o cetro lhe caiu das mãos. Ele ouviu alguém dizer, “Foi a primeira vez que isto aconteceu”. Mas ouviu também a resposta: “Será também a última que lhe acontecerá”.
E para aonde iria a realeza? Teria ele errado? Fizera mal em voltar à Europa pela terceira vez, deixando Isabel como Regente? E o detestado genro, o “corticeiro”, “o agiota sem berço”, dono de casas de pensão, segundo acusavam os boatos? Ora bolas, ele, o Imperador do Brasil, estava anêmico. Queria tratar-se com Charcot. E por falar no sábio francês, o quê fazer com o neto Pedro Augusto? Ele o preocupava tanto. Daria ele um sucessor à altura? E as vezes que o encorajara a se tornar Pedro III, o que fazer com tais promessas? Mas, e os sintomas que presenciara, seriam sinais da terrível maldição dos Bragança?
Ao se dirigir para a estação, arrancada do cotidiano modorrento da cidade serrana, sua esposa Teresa Cristina repetia, entre desconsolada e patética, que estava tudo perdido. Por isto mesmo, trouxera suas jóias consigo. Lembrava-se, com certeza, do triste fim dos Bourbon-Sicília e de seu irmão, Ferdinando II, de alcunha, “o Bomba”, - bomba por tudo o que destruiu na cidade de Messina quando Garibaldi a invadiu, atrelando o pequeno reino à recém nascida Itália. O som das metralhadoras, as camisas vermelhas, a longa guerrilha, os fogos acesos pelos rebeldes nas colinas, enfim, todas as lembranças e informações vindas por cartas e jornais estrangeiros alimentavam seu medo. O marido tentou acalmá-la: “ –Qual, senhora, chegando lá isso acaba”.
E o que era “isso” que tinha que acabar? Os dois últimos decênios tinham fervido de acontecimentos. Por um movimento subterrâneo que vinha de longe, a instabilidade de todas as coisas se mostrou. A guerra do Paraguai multiplicara os imensos defeitos da organização militar. E tornara visível que os progressos sociais não se tinham consolidado. Graças a Deus, a repugnante chaga da escravidão começava, lentamente, mas muito lentamente, a se apagar. E onde andaria o velho Deodoro? Haveria de ter uma explicação para tudo, não?
- Trecho de "O Príncipe Maldito", de Mary del Priore. Rio de Janeiro, Editora Objetiva, 2007.
nº2


República: a desilusão do jovem príncipe

by marcia

Pedro Augusto era jovem, belo, culto, inteligente. Um verdadeiro príncipe. Seu poder de simpatia o fazia estimado em todas as partes da corte. E fora dela, também. Por isso mesmo ele já sabia. Muitos o sabiam. Comentara sobre o assunto, aliás, com os amigos que o visitaram em sua residência na rua Duque de Saxe, na noite anterior. Há algum tempo circulavam denúncias de que oficiais do Exército conspiravam contra a monarquia. Eram avisos anônimos. Pior, avisos sem provas. Difíceis de punir. No mês de novembro, enquanto se festejava a presença de oficiais chilenos na capital, reuniões deixavam vazar o mal estar dos militares. Na noite do baile da Ilha Fiscal, alguns deles se agruparam no Clube dos Oficiais. O príncipe soube, também, que o marechal Floriano Peixoto, pessoa da mais alta confiança do governo imperial, teria rabiscado um bilhete a Ouro Preto dizendo: “Há esta hora deve V. Exa. Ter conhecimento de que tramam algo por aí; não dê importância...confie na lealdade dos chefes que já estão alertas”. Tudo isto, argumentavam os monarquistas, eram “balelas da oposição”. Mas os amigos que frequentavam sua casa afirmavam que neste ambiente de conjuração, seu nome poderia ser a única saída. Se havia modificações a fazer na sucessão do Imperador D.Pedro II era para colocá-lo no trono.
Afinal, a ambição de sua tia em tornar-se imperatriz estava longe de ter sustento. Sim. A princesa Isabel, era respeitada por suas qualidades pessoais: piedosa, boa mãe, esposa dedicada, filha extremada. Mas politicamente? Apenas tolerada. Não era sem repulsa que os políticos – e por que não, os homens de maneira geral – a viam exercer as funções que lhe atribuía a Constituição. Durante a Regência, quando ele estivera fora com o avô, Deus! Quantos conflitos pequeninos ela não criara com Cotegipe, então chefe do gabinete de ministros! Não insultara a Guarda Nacional chamando seus membros de “coronéis de bobagem”? Não sentara um padre estrangeiro, o Núncio do Papa, a seu lado na carruagem, enquanto fazia os brasileiros andarem sempre sentados à frente, como qualquer camarista? Não se negara a assinar a pena de morte de um escravo criminoso, sob alegação de que “ao coração de mulher repugnam certas coisas”? Não sabia dar ordens. Pouco sabia dos negócios públicos e quase nada conhecia da administração. Inadmissível vê-la intrometer-se na formação de Câmaras e gabinetes, nas eleições, na balança dos partidos que ora tinham que pender para um lado, ora para o outro, deixando tudo na mesma. A estratégia era usada com eficiência pelo avô, para ódio de seus detratores. Não havia dúvidas: a má vontade com o governo de uma mulher era explícita. As intrigas e confusões em torno dos moradores do Palácio Isabel se multiplicavam.
Beata. Carola: chegara a ponto de varrer o chão de uma igreja de Petrópolis, diziam alguns. Submissa. O “Francês”, ou seja, o conde D´Eu, é quem dava as ordens, mesmo contra a política de senadores e dos grandes do Império, reclamavam outros. Ah! O “Francês”: detestado também por alugar cortiços. Detestado por falar cheio de rr e em tom de choro. Detestado por viver despenteado, os cabelos arrepiados, as botinas sujas, as casacas cheias de dobras, as cartolas amassadas. Ridicularizado por vestir casaca com a grande ordem do Cruzeiro, trazendo as calças arregaçadas até os tornozelos. Não zelava por sua imagem. Recentemente, não lhe ocorrera predizer futuro sombrio ao fonógrafo recém-inventado nos Estados Unidos, pois julgava que o caráter misterioso da voz gravada tinha sabor de alma do outro mundo? Quanto atraso! Em Petrópolis, ia com os filhos às aulas de ginástica e não se contentava em olhar. Acompanhava os movimentos infantis com gestual “esquipáticos e desgracioso”, segundo contavam. Era visto depois, pelas ruas da pequena cidade, seguindo um carrinho puxado por carneiros aonde iam os meninos, “O que de certo não concorria para seu prestigio”, rematava o visconde de Taunay, frequentador da casa do príncipe. Era tão carola quanto a mulher. E o príncipe se deleitava com as imagens que diminuíam seus concorrentes.
Há dois anos, quando o avô, D. Pedro II, estivera para morrer, começaram a circular as primeiras notícias sobre a outra sucessão. A sua. Um ofício do ministro austríaco foi um dos primeiros sinais de que ele, Príncipe, já tinha apoio crescente. Enquanto isso, o ministro da França notificava ao seu governo sobre os primeiros sinais da conspiração, que já circulava no sangue da família imperial. Não queriam nem a princesa, nem seu filho. Quanto a Pedro Augusto, tinha até a compreensão dos ingleses. Seus “méritos” eram bem aceitos. Colocavam-no ao lado de Isabel como candidato ao trono e o corpo diplomático aproveitava para censurar as tendências clericais da princesa e a influência do marido, um estrangeiro, nos negócios do estado, em detrimento da independência do Brasil.
A avó Teresa Cristina se queixava: “Plantaram a discórdia na família”. Mas, agora...quando subiria ao trono? – se perguntava o Príncipe num apurado trote elevado, enquanto saudava um passante com um movimento de cabeça. Foram longos anos de espera a um preço terrível. Ele engolira todos os sapos e fizera todos os esforços. Tinha, até esta manhã ensolarada, a convicção íntima de que a data estava próxima. Não tinha planos muito claros para o império, mas tinha amigos que lhe dariam idéias. Deixou-se levar pelo ritmo do exercício e por seus sonhos de coroação.
Quando voltaram, o homem e o cavalo, suados, ao Palácio Leopoldina, o mordomo aguardava à porta principal. Parecia ansioso em falar com Sua Alteza. Enquanto o cocheiro recolhia o animal, o criado se precipitou escada abaixo. Com a cabeça baixa e alguns passos de distância do príncipe, começou a cuspir as informações que recebera logo cedo por gente que vira a coisa acontecer. Tudo começou ao clarear do dia, explicava o serviçal que era de toda a confiança de Pedro Augusto. O som das botas e das rodas dos dezesseis canhões krupp quebraram a monotonia do Campo de Santana. Quem olhasse pela janela de um alto sobrado na rua do Conde da Gávea, vizinha do quartel-general, descortinaria uma cena insólita. Eram quinhentos homens a marchar. E não pertenciam à Guarda Nacional que aí costumava fazer seus exercícios aos domingos. Era a 2ª. Brigada do Exército, dois Regimentos de Cavalaria, mais cerca de sessenta alunos da Escola Superior de Guerra, inaugurada no ano anterior. Todos armados dirigiam-se ao dito quartel, vindos de São Cristóvão. À frente o comandante do Primeiro de Cavalaria. Cavalgando, a seu lado, o rosto fino, os bigodes fartos e em ponta, o pince-nez do professor da Escola Militar, tenente–coronel Benjamim Constant. No caminho, o oficial que portava o pavilhão imperial jogou-o longe, com desprezo. A bandeira aterrissou no quintal de uma das casas ao longo da rua. Uma carruagem contornou a praça e depositou Deodoro da Fonseca diante do grupo. Embora fragilizado, magro e arfante, Deodoro tomou a montaria de um subordinado, assumindo a coluna de rebeldes. Era homem imponente, por trás da barba crespa e branca. A ele se juntou o único civil integrado às forças atacantes: o jornalista republicano Quintino Bocaiúva.
O quartel – continuava a contar o mordomo, já no frescor do salão enquanto servia ao príncipe um copo de limonada - se achava rodeado por destacamentos do Exército, da Armada, da Polícia da Corte e dos Bombeiros, convocados para sua defesa.  Desde a véspera corria a notícia de um movimento sedicioso. O gabinete Ouro Preto lutava para contê-lo. Ordens dos ministérios da Guerra e da Marinha mobilizara uma brigada mista de cerca de mil homens supostamente leais ao governo imperial. Supostamente. Postados ao lado da Estação da Estrada de Ferros, os homens enchiam também o pátio do quartel-general cujos portões estavam fechados.
Por sugestão do ministro da Guerra, Enéas Fonseca Galvão, Visconde de Maracajú, o gabinete liberal que governava o país se reunira no quartel general para “animar a resistência” e enfrentar o golpe. Um grupo, portanto, sabia que o Império corria riscos. O marechal de campo Floriano Peixoto ocupava seu posto junto ao governo. Tanto ele como o ministro da Guerra tinham dado garantias a Ouro Preto, de que a situação estava sob controle. Falsos! Nenhuma iniciativa contra os golpistas tinha sido tomada. Nenhuma barricada erguida, nenhuma boca de rua guarnecida, nenhuma casa vizinha ocupada para conter os insurgentes que logo iam mostrar a cara. Muitos dos homens do governo acreditavam piamente em que não haveria grandes surpresas. Outros como Floriano, passava ordens em voz baixa para os oficiais. A qualquer aproximação de Ouro Preto, agiam com dubiedade. Por precaução, as tropas mantinham-se apenas com as armas ensarilhadas. Todos pareciam assustados. O 10º. Batalhão de Infantaria, unidade de maior confiança do governo imperial, fora mandado interceptar a Escola Militar que também se rebelara e marchava, vindo de suas instalações na Praia Vermelha.
Um piquete de cavalaria sublevada chegou em missão de reconhecimento, até os muros do quartel-general. Surpresa: não provocou nenhuma reação dos militares presentes. Dentro do prédio, Ouro Preto, irado, reclamava um contra-ataque. Queria a captura dos oficiais, mas esbarrava na inércia silenciosa dos homens com os quais deveria contar. Um exemplo: um oficial, designado para o comando das tropas aparentemente fiéis, circulava pelos corredores do quartel. Instado a assumir as funções para as quais havia sido designado, e interpelado por Ouro Preto se “ - iria cumprir seu dever”, respondeu, com singular expressão: “ - seguramente irei cumprir meu dever”. Mas a dúvida ficou no ar: cumprir em relação a quem?
E o mordomo prosseguia diante do rosto impassível do príncipe, o cerco em torno do quartel se fechou. Ombro a ombro, os militares das mais diversas patentes cerravam fileiras em torno de dezesseis canhões que apontavam para a fachada do quartel. A Brigada Mista formada por fuzileiros, encarregada de resistir contra as tropas revoltadas, cedeu quando seu comandante obedeceu à ordens de Deodoro da Fonseca de se alinhar com eles. Enquanto isso, o 10º. Batalhão de Infantaria que marchava para fazer frente aos cadetes da Escola Militar, abortou sua missão. As unidades se confraternizaram.
No Campo de Santana, um mensageiro se destacou das fileiras – seguia relatando o mordomo. Trazia uma mensagem de Deodoro da Fonseca para Floriano Peixoto. Ouro Preto recusou-lhe a entrada: no seu entender, uma força armada revoltada tinha que ser repelida à força. E sem diálogo! Mas aconteceu o pior, dramatizava o narrador. Nesse momento, chegou ao quartel general o ministro da Marinha, Almirante Barão de Ladário. Era um homem entrado em anos. Uma vasta barba e bigodes brancos lhe cobriam as faces e comendas e honrarias militares se acumulavam sobre a farda. Um ajudante-de-ordem de Deodoro deu-lhe voz de prisão. Ladário não teve dúvidas. Desceu da carruagem que o conduzira até o Campo, sacou da pistola, atirou sobre o oficial. A seguir mirou sobre Deodoro. Errou os dois tiros. A reação foi imediata. Um piquete de homens caiu sobre ele, agredindo-o com tiros e coronhadas. Foi salvo por Deodoro que teria gritado: “Não matem o Barão!”. Muito ferido, foi recolhido a uma farmácia e depois levado para casa. A ideia de que os revoltosos atiravam para matar impressionou o príncipe.
O que o príncipe Pedro Augusto não soube é que, dentro do quartel-general, as ordens de Ouro Preto para resistir eram esvaziadas. Ninguém parecia ouvi-las. Floriano alertava para a carnificina que a artilharia, assestada sobre o quartel, poderia provocar. Ouro Preto insistia, argumentando com o marechal que durante a Guerra do Paraguai fora possível neutralizar a ação dos canhões a pouca distância. E teve que ouvir em resposta: “ - Sim, mas, lá tínhamos pela frente inimigos e aqui somos todos brasileiros”. Ao mesmo tempo, outros oficiais demonstravam, eles, também preocupação com o matadouro em que iria se transformar o campo de Santana. Lamentável, mas, não era possível qualquer reação, como desejaria o primeiro-ministro. Diante do fato consumado, enviou-se um telegrama ao Imperador: o texto dizia que o Ministério estava sitiado, que um ministro fora ferido e que não havia como resistir. Ouro Preto pedia demissão de seu cargo de presidente dos ministros e encerrava o texto com uma frase definitiva: “A tropa acaba de fraternizar com o Marechal Deodoro, abrindo-lhe as portas”.
E de fato, obedecendo às ordens de Deodoro e conhecedores dos rumores que circulavam dentro do quartel sobre as reticências a respeito de qualquer reação, os soldados abriram os portões. Velho e doente, o marechal Deodoro, entrou no pátio, aos gritos de “ - tirem esses trambolhos daqui”, referindo-se às metralhadoras armadas nos seus tripés. As armas desabaram por terra. A tropa presente respeitosamente o saudou, em continência! Ao ouvir um “ -Viva a República”, mandou calar! Ao som da banda e do tinir das armas que lhe iam sendo sucessivamente apresentadas, Deodoro subiu ao salão onde se achava, acuado, o ministério. Ao cruzar com o ministro da Guerra, Maracaju, lhe teria dito secamente, “- Adeus, primo Rufino”. Decretava, com a seca despedida, o fim do ministério.
Com Ouro Preto, foi direto ao ponto: pusera-se à frente do Exército para vingar gravíssimas injustiças e ofensas que esta corporação recebera do governo. Enquanto o Exército se dedicava à defesa da pátria, os políticos só o maltratavam e cuidavam dos próprios interesses pessoais. Aludiu aos seus sofrimentos, pois estava gravemente doente, sem contar os outros problemas, nascidos nos campos de batalha do Paraguai. Mas Ouro Preto não perdeu tempo em responder: “Não é só nos campos de batalha que se serve à pátria e por ela fazem-se sacrifícios. Estar aqui ouvindo o general neste momento não é somenos do que passar alguns dias e noites num pantanal”. Encerrou-se a conversa com voz de prisão a Ouro Preto. Estava deposto e preso. Sem mais.
A seguir, e depois de uma salva de vinte e um tiros, Deodoro saiu à frente das tropas do exército, Armada, Polícia e Bombeiros, desfilando pelo centro da cidade, ouvindo pelo caminho aclamações e discursos patrióticos. Terminou seu trajeto em frente ao Arsenal da Marinha. Aí, novamente, os portões se abriram e foi recebido pelo contra-almirante Eduardo Wandenkolk, líder dos republicanos na Marinha, além de convidado do príncipe Pedro Augusto, alguns dias antes.
Depois de dispersas as tropas que haviam tomado parte no movimento, Deodoro se recolheu. Até este momento não houvera proclamação de república alguma. Tão somente se anunciava mais uma queda de ministério. Procurava-se um substituto para Ouro Preto e havia mesmo quem tivesse ouvido Deodoro gritar para as tropas, “ -Viva Sua Majestade, o Imperador”. Apesar do aparato, nada se decidira. Inconformados, alguns republicanos, militares e civis, liderados por José do Patrocínio, se reuniram no edifício da Câmara Municipal onde foi hasteada a primeira bandeira da república: uma imitação da americana, com listras amarelas e verdes. De lá, o grupo marchou até à casa do velho marechal, do outro lado do campo de Santana. Adoentado e com falta de ar, depois de tanto esforço, Deodoro já se encontrava deitado. Benjamim Constant veio até a sacada de onde ouviu Patrocínio discursar apaixonadamente sobre como o povo havia proclamado a República. A resposta vinda da janela decepcionou a todos: “ - o voto do povo seria tomado em consideração”. Uma ducha fria. A dispersão se fez em silêncio.
O príncipe Pedro Augusto ouvira cada palavra dita pelo mordomo com atenção. Estava atônito. Bem informado como era, por quê não foi avisado com antecedência? Afinal tinha amigos entre os republicanos. Fizera alianças para garantir seu futuro Reinado. O plano estava bem encaminhado e seus partidários da Marinha – ou aqueles que ele achava que o apoiariam – não lhe deram nenhum sinal desta mudança. Faltava pouco para o aniversário do avô, data, em que os fatos tomariam novos rumos políticos. Em que o futuro do Brasil estaria nas mãos de um jovem brilhante, bonito e gentil. Enfim, nas suas mãos!  Um aperto no coração indicou que as coisas podiam não transcorrer como ele havia previsto. A manhã, antes azul, agora lhe parecia sombria. Não estando bem certo do que aquilo significava, mandou um espia para a casa dos tios. Que se infiltrasse entre os empregados. Que abrisse bem os ouvidos. Era importante saber o que lá ia acontecendo.
- Trecho do livro "O Príncipe Maldito", de Mary del Priore. Rio de Janeiro, Editora Objetiva, 2007.
pedroaugustoprince

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Documentários gratuitos sobre filosofia

by marcia

O Canal do Ensino disponibilizou documentários gratuitos sobre Nietzsche, Heidegger e Sartre.

Filósofos

Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844 -1900) foi um filósofo alemão do século XIX e um dos maiores nomes dessa área. Martin Heidegger (1889 – 1976) foi um filósofo alemão do século XX que influenciou muitos outros, dentre os quais Jean-Paul Sartre. Jean-Paul Sartre (1905 -1980) foi um filósofo francês, conhecido como representante do existencialismo.
Os documentários são conduzidos por Alain de Botton, escritor e produtor famoso por popularizar a filosofia e divulgar seu uso na vida cotidiana. De Botton iniciou um Ph.D em filosofia francesa em Harvard, mas acabou preferindo escrever ficção.  Possui sua própria produtora, a Seneca Productions, que transmite regularmente programas e documentários na televisão britânica baseados em seus trabalhos.
Documentário sobre Nietzsche
Documentário sobre Heidegger
Documentário sobre Sartre
 FONTE: Canal do Ensino.

Caricaturas: nasce a República

by marcia
Na Semana da República, entre os dias 15 e 22 de novembro, a Casa Histórica do Marechal Deodoro, com o Projeto Janelas Abertas para a República, estará oferecendo ao público visitas guiadas gratuitas pelo entorno do Campo de Santana. Serão sete diferentes percursos, com ênfases diferentes, orientados e interpretados por guias recém-formados pelo Curso de Turismo do Colégio Estadual Antônio Prado Júnior.
Todos os roteiros terão como ponto de apoio e de saída a Casa Histórica de Deodoro, que, além do seu acervo permanente, contará com a Exposição de Caricaturas “Nasce a República”, com curadoria das equipes envolvidas. Esse projeto, apoiado pela FAPERJ, tem parceria da Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército e a colaboração de diversas instituições do entorno do Campo de Santana.
Datas: Todos os dias da semana de 15 a 22 de novembro.
Saídas: às 10h e às 13h. Sexta, sábado e domingos saídas extras às 11h e às 14h.
Local: Casa Histórica de Deodoro. Praça da República, 197 - Rio de Janeiro.
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“A idade não tem podido contra um coração todo seu”, carta de D. Pedro II à condessa de Barral

by marcia

Depois de mais de trinta anos de amizade com a condessa de Barral, o imperador D. Pedro II sofre as saudades da distância que os separa: ele no Rio de Janeiro, ela em Roma.
Rio de Janeiro, 7 de junho de 1880
Condessa,
Cheguei às oito e meia para nove horas da manhã.
Careço de tempo para copiar as notas de minha viagem que muito me agradou. O Paraná é uma bela província de grande futuro. O frio fortificou-me, chegou numa manhã em Curitiba a dois graus abaixo de zero. Não imagina quanto você me faltou durante essa viagem. Se me quer muito quanto mais lhe quero eu como o melhor consolo para a vida que levo! Felizmente achei suas duas cartas acabadas a 30 de abril e a 4 de maio. Creia que a todas queimo e que preciso de que você me diga tudo e tudo. Sou o mesmo que lhe inspirou tamanha afeição e de nada me esqueço, tudo revivendo em mim com o mesmo viço de uma afeição de trinta e tantos anos.
Ah se lhe contasse tudo o que imaginei nas lindas noites dos campos do Paraná! A idade não tem podido contra um coração todo seu. Desculpe-me se lhe falo assim. Você sabe como a estimo, e tudo posso dizer a quem tão bons conselhos sempre me deu. Ah se você estivesse agora aqui ou eu em Roma, como apreciaríamos nossa afeição inabalável! Mais quisera dizer, po­rém prefiro que você adivinhe tudo o que eu acrescentaria ao que já escrevi. Vou ler para poder dormir. Adeus! E ainda adeus!
Mande-me como puder em sua próxima carta um pouco do que você sente por mim tão e tão longe de quem lhe quer cada vez mais. Adeus!
Vou enfim dormir.
Ontem, logo que cheguei e aviei, o mais urgente fui ver o reservató­rio de água do Pedregulho. Examinei bem a direção da fenda em quase toda uma diagonal do canto de noroeste ao de sudeste. Pode ser causa local, e a comis­são nomeada e composta de competentíssimos dará brevemente seu parecer. Rachas semelhantes sem rumo das obras têm-se dado em reservatórios cons­truídos sob a direção dos mais hábeis engenheiros. Voltei à barafunda política e amanhã já terei despacho à noite. O resto da semana será ocupado principalmente com as festas do tricentenário de Camões. Creio que serão brilhantes. O nosso conhecido Hermann fez aqui na minha ausência pelotices surpreendentes. Espero vê-lo quando tiver voltado de São Paulo. Hoje e todos estes dias muito tenho que ler para ficar um pouco em dia. Esta carta lhe será levada pelo paquete de amanhã de manhã. Esta noite já há um festejo teatral em honra de Camões. Faz calor. Amanhã ou depois chegará vapor francês. Ando sempre sôfrego de suas cartas. A impaciência é compa­rável a que tanto me fazia sofrer como você recorda em uma de suas cartas. Por que havíamos de viver tão longe um do outro? Se eu lhe aparecesse agora em Roma o que faria você? Eu transporto-me até lá nas asas da minha imagi­nação e aqui lhe mando tudo e tudo. Não se zangue comigo e console-me como quando me via aflito na […].[1] Aperte a mão de
Seu amigo de sempre
Ainda aqui lhe mando as minhas saudades – como brotão e rebrotão!
....................................................
Alcindo Sodré. Abrindo um cofre. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1956.
[1] N.E.: Palavra ilegível.
FONTE: Correio IMS.
nº2Retrato_da_condessa_de_Barral_e_Pedra_Branca,_1865
D. Pedro II e a condessa de Barral: mais de 30 anos de amor e amizade.
Saiba mais sobre essa empolgante história em:
“Condessa de Barral – a paixão do Imperador“, de Mary del Priore. Rio de Janeiro, Editora Objetiva, 2006.
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“Cultura e Opulência do Brasil” recebe o selo Memória do Mundo – Brasil

by marcia

O livro “Cultura e Opulência do Brasil”, publicado em 1711 por um jesuíta sob o pseudônimo André João Antonil, é a primeira obra impressa do acervo de Obras Raras da Biblioteca Nacional (BN) a receber o registro do programa Memória do Mundo – Brasil, da Unesco.
A candidatura, submetida para análise do comitê nacional do programa Memória do Mundo em julho deste ano, foi fundamentada em aspectos relativos à importância da obra e à qualidade do exemplar do acervo da BN. “Conseguir o registro para uma publicação impressa é difícil, porque concorremos com manuscritos e outros documentos que constituem exemplares únicos”, explica Ana Virginia Pinheiro, chefe do acervo de Obras Raras. No caso deste livro, ela conta que existem apenas sete peças conhecidas no mundo, pois logo após sua publicação, no início do século XVIII, a edição foi proibida e a tiragem, destruída. Isso porque a Coroa Portuguesa considerou inoportuna a disseminação de informações estratégicas sobre as riquezas do Brasil, incluindo dados sobre os engenhos de açúcar, tabaco e gado, bem como a localização das minas de ouro e prata. “Só se salvaram os exemplares que tinham sido doados antes da proibição, e poucos se preservaram até hoje”, diz.
A obra, que consta no arquivo da BN, é um item de cofre, que foi microfilmado e digitalizado para facilitar a consulta pelos usuários. O original entrou no acervo em 1911, e sua origem, que pode ser traçada com segurança, foi documentada no pedido de registro encaminhado ao comitê da Unesco. Depois de pertencer a diversos colecionadores que a negociaram ou doaram, a peça acabou sendo incorporada à biblioteca de José Carlos Rodrigues, que foi adquirida por Julio Benedicto Ottoni e doada à BN.
O livro foi digitalizado e está disponível para leitura na BNDigital:http://objdigital.bn.br/acervo…/div_obrasraras/or1320141.pdf
culturaeopulencia
FONTE: Fundação Biblioteca Nacional

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

A biblioteca pessoal de Fernando Pessoa disponível para consulta

A biblioteca pessoal de Fernando Pessoa disponível para consulta

by marcia
A Casa Fernando Pessoa possui um tesouro único no mundo: a biblioteca particular desta figura maior da literatura. É muito raro conseguir-se encontrar a biblioteca inteira de um escritor com a dimensão universal de Pessoa. Os livros tendem a mover-se muito depressa: emprestam-se, perdem-se, vendem-se. Pessoa também vendeu alguns – mas deixou-nos 1.142 volumes, de todos os gêneros e em vários idiomas, densamente anotados e manuscritos.
Entendemos que uma biblioteca desta importância devia tornar-se patrimônio da humanidade – e não apenas dos que podem deslocar-se a esta Casa onde Fernando Pessoa viveu os últimos quinze anos da sua vida.
Graças à dedicação de uma equipe internacional de investigadores coordenada por Jerônimo Pizarro, Patricio Ferrari e Antonio Cardiello foi possível digitalizar, na íntegra, toda a biblioteca. Graças ao apoio da Fundação Vodafone Portugal foi possível colocar online cada uma das páginas digitalizadas. Deste encontro de entusiasmos generosos resultou a disponibilização gratuita da preciosa biblioteca do autor de O Livro do Desassossego , que agora pertence aos leitores em qualquer parte do globo. Procuramos tornar acessível e simples a compreensão da biblioteca no seu todo – que está classificada por categorias temáticas – e a consulta de cada livro. Destacamos páginas que incluem manuscritos do próprio Pessoa – ensaios e poemas escritos nas páginas de guarda dos livros.
Trata-se de uma biblioteca aberta ao infinito da interpretação – bela, surpreendente e instigante, como tudo o que Fernando Pessoa criou. Usufruam-na.
Inês Pedrosa - Casa Fernando Pessoa
Para ter acesso ao acervo, acesse o link abaixo:
fernandopessoa

Propaganda, História e Memória

by marcia
Por Natania Nogueira.
Uma das coisas mais interessantes em se pesquisar periódicos antigos é observar os anúncios que neles são veiculados. Anúncios de venda de imóveis ou de elixires poderosos que prometem acabar com os “males femininos” ou trazer de volta a energia da juventude. Podemos viajar pela História simplesmente nos atendo às propagadas de jornais e revistas.
Tentativas de se vender determinados produtos, estes anúncios tornam-se valiosas fontes de informações históricas. Um anúncio de venda de escravos ou de recompensa pela captura de escravo fugitivo pode ajudar a reforçar teses sobre a população escrava em determinada localidade e suas tentativas de resistência ao cativeiro. A oferta de remédios para determinadas moléstias nos diz muito sobre a saúde pública, sobre as doenças mais comuns e sobre as formas como eram tratadas.  A oferta de vagas em escolas particulares nos ajuda a traçar um perfil da rede de ensino que se formava em determinada época, em determinada localidade. Pequenas informações que ajudam a compor o mosaico da História.
A inauguração da imprensa nacional, com a vinda da Família Real portuguesa para o Brasil inaugura, também, a era da propaganda, que já ultrapassa respeitáveis 200 anos. A história da propaganda no Brasil começa com a Gazeta do Rio de Janeiro, em 1808, com seus primeiros anúncios de venda de imóveis, e passa pelas centenas de periódicos que surgiram, na Corte e em pequenas cidades, localizadas nas mais distantes regiões do Brasil, no século XIX.
Os anúncios ou propagandas ilustradas demorariam um pouco mais. Elas começariam a se popularizar a partir de 1875, quando o Mequetrefe e o Mosquito inauguraram os primeiros “reclames ilustrados”. A partir de então outros jornais e, posteriormente, revistas passaram a dedicar um espaço cada vez maior às ilustrações (desenhos, litogravuras e logotipos), que passaram a ocupar até páginas inteiras. Ao lado de charges e quadrinhos, estas propagandas ilustradas tornaram-se características das publicações veiculadas a partir de 1875, em todo o Brasil.
São imagens que divertem, contam histórias e são registros importantes da memória nacional. Propagandas e anúncios ilustrados podem ser fontes para História local. Mais do que isso, podem ser utilizadas como forma de se ensinar esta história e, ao mesmo tempo, trabalhar educação patrimonial e memória. Devidamente contextualizados, jornais e revistas podem dialogar e enriquecer o ensino de História, além de colaborar para a construção da história local.
Um simples anúncio de propaganda pode tornar uma aula de História mais interessante. E as ferramentas estão ao alcance de professores. Atualmente, temos disponíveis para consulta, download e impressão, milhares de páginas de jornais e revistas brasileiras e estrangeiras, permitindo ao professor ensinar e produzir história com seus alunos. Pequenas iniciativas, a partir de pequenos fragmentos da História, podem ajudar a formar uma juventude mais crítica e capaz de reconhecer a importância da sua nossa História.

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