quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Quarto centenário Mário Zan e J M Alves Carlos Galhardo 1953 Dobrado

São Paulo Terra Amada - Quarto Centenário

São Paulo Terra Amada - Quarto Centenário

IV Centenário de São Paulo, 1954.

Santos no Passado

IMAGENS DA CIDADE DE SANTOS DE ANTIGAMENTE!

VIA ANCHIETA EM 1943 - Santos - Paranagua (Colégio dos Jesuítas)

CIDADE DE SANTOS EM 1989 RARISSIMO

O Porto de Santos (Aloysio Raulino, 1978)

Rodovia Anchieta e cidade de Santos em 1988

São Paulo, Santos, São Vicente e Praia Grande em anos de 1980

SÃO PAULO EM 1943 - 46 - HAGOP GARAGEM.wmv

Dia de São Silvestre

by marcia
O último dia do ano é dedicado a São Silvestre. Nascido em Roma, Silvestre I foi papa de 314 a 355 d.C. Em seu pontificado, estabeleceu novas bases doutrinais e disciplinares colocando a Igreja em um novo contexto social e político. Ocorreu o entrosamento entre o clero e o Estado. Com o Edito de Milão, o cristianismo passou a ser a religião oficial do Império Romano, na época governado por Constantino Magno. Com essa aliança, os cristãos puderam professar abertamente sua crença e a Igreja saiu de um período de perseguição que já se arrastava por 300 anos.
Uma das grandes realizações do papa Silvestre foi o concílio de Niceia, em 325, que definiu a divindade de Cristo. O curioso é que a assembleia foi convocado pelo próprio Constantino, o que mostra sua influência nos assuntos eclesiásticos. Foram elaborados ainda os de Arles e Ancira. São Silvestre foi um dos primeiros santos não-mártires cultuados pela Igreja. Ele é lembrado como protetor dos seguidores mais fiéis de Cristo. E também instituiu o domingo como dia santo.
SãoSilvestre

Papa Silvestre I
Com a ajuda do imperador, São Silvestre construiu as basílicas de São Pedro sobre o túmulo do apóstolo, a Lateranense - que se tornou a residência dos papas - e a de São Paulo. Existem apenas três paróquias dedicadas a São Silvestre no Brasil. A maior delas está localizada no distrito de São Silvestre, que faz parte de Jacareí, no Vale do Paraíba (SP); as outras ficam em Viçosa (MG) e Maringá (PR).
CORRIDA-
Em homenagem ao dia do santo, ocorre em São Paulo a tradicional Corrida de São Silvestre. Quem teve a ideia de realizar a prova foi o jornalista Cásper Líbero, que se inspirou numa corrida noturna francesa em que os competidores carregavam tochas de fogo durante o percurso. Em 1924, depois de assistir ao evento em Paris, ele trouxe o projeto para São Paulo. À meia-noite de 31 de dezembro daquele mesmo ano foi disputada a primeira São Silvestre, que homenageia o Santo do dia.
A participação, contudo, ficou restrita aos homens e coube a Alfredo Gomes, atleta do Clube Espéria, escrever o seu nome na história desta prova como o primeiro vencedor. Até a sua 20ª edição, a São Silvestre era disputada somente por brasileiros. A partir de 1945, assumiu caráter internacional com a presença de convidados do Chile e Uruguai. Depois disso, correram pela ruas de São Paulo atletas americanos, europeus, africanos e asiáticos. Na nova fase, o atletismo nacional saiu-se vitorioso somente nos dois primeiros anos, quando Sebastião Monteiro cruzou em primeiro a linha de chegada.
Quando a ONU determinou o Ano Internacional da Mulher, em 1975, o jornal A Gazeta Esportiva, organizador da prova, instituiu a primeira competição feminina, que foi realizada em conjunto com a masculina, mas com a classificação em separado. A campeã da inédita prova foi a alemã Christa Valensieck, que voltou para repetir o feito no ano seguinte.
FONTE: Fundação Cásper Líbero.

domingo, 27 de dezembro de 2015

Cursos de Tupi Antigo e Língua Geral (Nheengatu) – USP

by marcia
O tupi antigo foi a língua mais usada na costa do Brasil no século XVI. No século XVII ele daria origem a línguas gerais. Estas foram, por séculos, as línguas da maioria dos membros do sistema colonial brasileiro, de índios, negros africanos e europeus, contribuindo para a unidade política do nosso país. Legaram à língua portuguesa do Brasil milhares de termos, nomearam milhares de lugares em nosso território, penetraram em nossa literatura colonial, no Romantismo, no Modernismo, foram a referência fundamental de todos os que quiseram afirmar a identidade cultural do Brasil.
Professor titular da Universidade de São Paulo, autor do Método Moderno de Tupi Antigo, do Dicionário de Tupi Antigo e do Curso de Língua Geral (Nheengatu ou Tupi Moderno). Ministra o curso de Tupi Antigo às quintas-feiras, das 19h30 às 21h00, ou às sextas-feiras, das 10h00 às 11h40 ou das 19h30 às 21h00. Ministra também o curso de Nheengatu (Língua Geral da Amazônia), às quintas-feiras, das 21h10 às 22h40, ou às sextas-feiras, das 8h00 às 9h40, com frequência aberta a todos os interessados. Os cursos são sempre ministrados no prédio das Letras da USP.   
INFORMAÇÕES PARA CONTATO
Rua Antonio Tomaz, 7
Paranapiacaba - Santo André - SP
Cep: 09150-150
correio eletrônico: edalnava@yahoo.com.br
Mais informações:
FONTE: FFLCH/USP.
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Desembarque de Pedro Álvares Cabral, de Oscar
Pereira da Silva.

uriosidades sobre o Papai Noel

by marcia
Papai Noel chegou ao Brasil na segunda década do século XX e sua popularização é posterior a 1930, de acordo com Câmara Cascudo (Dicionário do Folclore Brasileiro). O autor não acreditava que o "bom velhinho" se tornasse uma presença marcante no Natal brasileiro, destacando que a figura causava efeito mais "hilariante que venerando" por aqui, por sua falta de ligação com as tradições natalinas da Península Ibérica. As roupas e o ar invernal pareciam estranhos ao nosso ambiente:
Figura de obrigação formal nos festejos de Natal, é sempre de iniciativa oficial e letrada, jamais popular. Com a felpuda e rubra indumentária de inverno polar, dificilmente ajustar-se-a à normalidade resplandecente do verão brasileiro, dezembro ardente, de praias amplas, trajes ligeiros e luminosidade cegante.
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       As origens europeias do Papai Noel são bastante difusas, sendo associadas às lendas de S. Klaus e S. Nicolau, padroeiro da Rússia Imperial, do Bonhomme Noël ou Javier, da França. "Não conheço representação do Papai Noel antes do século XIX e, assim mesmo, depois dos primeiros 20 anos. (...) Na América, o mais antigo desenho foi publicado em Nova Iorque, no Harper Illustrated Weekly, em dezembro de 1863". Cascudo informa que essa ilustração de Thomas Nast se tornou "inconscientemente" modelo para inúmeras cópias e plágios por toda Europa e Estados Unidos.
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        O autor afirma também que o Papai Noel não se tornou rapidamente popular na Península Ibérica e na Itália.
(...) onde Menino-Deus, Gesú Bambino, o presépio mantêm sua prestigiosas simpatias na predileção popular para o Natal e suas alegrias domésticas. "Natale coi tuoi/Capo d'anno com chi vuoi"., dizem os italianos. Na Itália não há Papai Noel, dizem os italianos. E os presentes de Reis são ofertas da bruxa Befana, vestida de negro, cavalgando uma vassoura, com o saco repleto de dádivas. Na Espanha, os distribuidores são magnificamente escolhidos nas pessoas dos três Reis Magos. Todos deixam os brinquedos nos sapatinhos e meias expectantes ao calor do fogão solitário. 
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Ilustrações: Papai Noel de Thomas Nast (1881); edição da Harper Illustrated Weekly; representação da Bruxa Befana

O Natal no passado: festejos e religiosidade

O Natal no passado: festejos e religiosidade

by marcia
Existem vários relatos de como nossos antepassados comemoravam o Natal. Não podia faltar comida, bebida e música. Vamos conhecer alguns deles:
Na corte:
Chegou o Natal: o menino sobre a palha da manjedoura, a missa do galo, os presépios de Belém, as cantigas singelas. Nos arredores da corte, inclusive São Cristóvão, as capelinhas abriam as portas; a luz dos círios, os sons do órgão e o murmúrio das vozes enchiam os templos. Nas igrejas, abundavam as toilettes novas, e os jovens aproveitavam para dizer graças, e bolir uns com os outros. Na festa do Club Guanabarense, em Botafogo, houve queima de fogos à meia-noite. Seguiam-se as trocas de cadeaux – os presentes comprados, de preferência, nas lojas de nome francês. Seguiu-se a noite de Reis, com ceias lautas e menus europeus à base de ostras, maionese e gelatina. (O Príncipe Maldito, de Mary Del Priore).
Nas fazendas:
O ritmo do trabalho só era quebrado pelo calendário religioso e as festas de colheita. No Natal, por exemplo, recebia-se visita de parentes vindos da cidade. Nestas ocasiões, a casa se enchia de balbúrdia, as escravas aprontando bandejas e compoteiras. Presentes na forma de galinhas, leitões e perus, amarrados com fitas coloridas, eram entregues aos vizinhos e amigos. Os bailes pastoris, outra forma de comemorar, apresentavam um tom monótono e solene com o perfume e a chuva de flores que promoviam ao longo de sua realização. Natal também era momento para ver dançar as pastorinhas e visitar presépios. (Barral - A Paixão do Imperador, de Mary Del Priore).
Na visão dos viajantes:
As festas do Natal e da Páscoa, sempre favorecidas no Brasil por um tempo magnífico, constituem épocas de divertimentos tanto mais generalizados quanto provocam mais de uma semana de interrupção no trabalho das administrações e nos negócios do comércio; o descanso é igualmente aproveitado pela classe média e pela classe alta, isto é, a dos diretores de repartições e dos ricos negociantes, todos proprietários rurais e interessados, portanto, em fazer essa excursão em visita às suas usinas de açúcar ou plantações de café a sete ou oito léguas da capital.
Quanto aos artífices, reunidos na casa de seus parentes ou amigos, proprietários de sítios vizinhos da cidade, aproveitam essas festas para gozar em liberdade os prazeres que essas curtas e pouco dispendiosas excursões lhes permitem. Basta-lhes com efeito mandar levar sua esteira e sua roupa pelo seu escravo. À noite, à hora de dormir, as esteiras desenroladas no chão, cada qual com seu pequeno travesseiro, formam leitos de emergência distribuídos pelas três ou quatro salas do rés-do-chão, que constituem uma residência desse tipo. No dia seguinte, ao romper do dia, ergue-se o acampamento e os mais ativos se separam para ir passear ou banhar-se nos pequenos rios que descem das montanhas vizinhas. O exercício da manhã abre o apetite; volta-se para almoçar, mas inventam-se divertimentos mais tranquilos para o momento do sol forte até uma hora da tarde quando se janta. De quatro às sete dorme-se e, depois da Ave-Maria dança-se durante toda a noite ao som do violão. Deliciosos momentos de fresca, empregados pelos velhos na narrativa de suas aventuras do passado e pelos moços em dar origem a alguns episódios felizes, cuja recordação encantará um dia a sua velhice.
Este ligeiro esboço dá entretanto apenas uma pobre ideia das brilhantes recepções realizadas na mesma época nas imensas propriedades dos ricos que, por vaidade, reúnem numerosa sociedade, tendo o cuidado de convidar poetas sempre dispostos a improvisar lindas quadrinhas e músicos encarregados de deleitar as senhoras com suas modinhazinhas. Os donos da casa também escolhem, por sua vez, alguns amigos distintos, conselheiros acatados do proprietário na exploração da fazenda que visitam demoradamente com ele, ao passo que, ao contrário, os jovens convidados, ágeis e turbulentos, entregam-se a essa louca alegria sempre tolerada no interior. Aí todos os dias começam, para os homens, com uma caçada, uma pescaria ou um passeio a cavalo; as mulheres ocupam-se de sua toilette para o almoço das dez horas. À uma hora todos se reúnem e se põem à mesa; depois de saborear, durante quatro a cinco horas, com vinhos do Porto, Madeira ou Tenerife, as diferentes espécies de aves, caça, peixes e répteis da região, passam aos vinhos mais finos da Europa. Então o champanha estimula o poeta, anima o músico, e os prazeres da mesa confundem-se com os do espírito, através do perfume do café e dos licores. A reunião prossegue em torno das mesas de jogo; à meia noite serve-se o chá, depois do qual cada um se retira para o seu aposento, onde não é raro deparar com móveis, perfeitamente conservados, de fins do século de Luiz XIV.
No dia seguinte, para variar, vai-se visitar um amigo numa propriedade mais afastada; tais cortesias aumentam ainda os prazeres dessa semana que sempre parece curta demais. Alguns amigos íntimos, que dispõem de seu tempo, ficam com a dona da casa, cuja estada se prolonga durante mais seis semanas ainda, em geral, depois do que todos tornam a encontrar-se na cidade. (Rio de Janeiro: cidade Mestiça, de Jean-Baptiste Debret).
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Debret: Natal.
Na Europa:
Palácio de Coburgo, Viena, Áustria, no frio dezembro de 1871: em carta à irmã, a princesa Isabel, a jovem princesa Leopoldina descrevia a paisagem açucarada pela neve e revelava o cotidiano da família real: “ocupadíssima com arrumações...vamos ao circo e depois comprar a árvore de Natal!”. Já era hábito, então, que o pinheiro ostentasse variados enfeites: fios de prata, bolas de vidro, pinhões dourados, pequenas maçãs suspensas em redes e toda a sorte de bombons. Velas de cera colorida ardiam durante o jantar e as crianças, bem comportadas, tinham direito a presentes. É só a partir desta época, que as elites começam a copiar, nos trópicos, os hábitos europeus. (O Castelo de Papel, de Mary Del Priore).
Em Salvador, Bahia, no século XVIII:
Escravos apressados subiam e desciam as íngremes ladeiras que levavam da Cidade Alta à Baixa. Na cabeça, pesadas cestas com perus vivos, bolos e doces feitos em casa. No interior dos caçuás, seguiam bilhetes em papéis recortados, assim como os “presentes” eram envoltos em folhas cuidadosamente rendilhadas. Tocando os sinos colocados no portão e, num grande sorriso, os carregadores anunciavam: “Siô branco manda uns presente...”.
Não tinha pinheiro nem neve, mas o Natal era a festa mais importante do calendário popular do Brasil. Mestre Câmara Cascudo, nosso maior etnógrafo, diz mesmo que as palavras “Natal” e “festa” eram sinônimos. E que dezembro era passado em meio a um autêntico ciclo de bailes, reuniões e ingestão de alimentos típicos, que terminavam a 6 de janeiro, por ocasião do dia de Reis. O bumba-meu-boi, o boi-calemba, as marujadas, os pastoris com suas lapinhas, as congadas e reisados preparavam, cada um, num dia, a chegada da missa do galo. E até o fim do século XVIII, muitas danças profanas, ao som de instrumentos rústicos, eram bailadas no próprio interior da igreja. Do lado de fora, representava-se a Natividade, com membros da comunidade no papel da Sagrada Família, dos Pastores e dos Reis Magos. Enquanto isso, animais de verdade, pastavam tranquilamente, em improvisadas manjedouras. Cantos enchiam a noite, dando continuidade a uma tradição musical que começou no século XI, em Portugal.
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Salvador, Rugendas.
O hábito de remeter um “pão por Deus” era comum. Espécie de ancestral dos presentes de hoje, consistia na troca de comidas simbólicas, o pão, com seu simbolismo eucarístico e solidário, sendo o favorito. Não faltou quem fizesse graça, nesta ocasião. O famoso poeta baiano, Gregório de Matos, também conhecido por Boca do Inferno, num de seus poemas ironizou uma freirinha do convento de Nossa Senhora das Mercês, conhecido por seu laxismo. O título diz tudo: “A certa freira que mandou a seu amante graciosamente por “pão por Deus” um cará”! A sugestão era óbvia. De presente, ela queria algo parecido com o tubérculo.
Excessos eram comuns. Na letra de um dos muitos bailes pastoris dançados na Colônia, os pastores e reis confessam ao menino Jesus  estarem “melados”, “chupados” com a cabeça pesada e desmemoriados por causa de tanta bebida:
“Veja como estão vocês
De caiana tão tomados
Vocês não veem o presepe
Como estão embriagados”.
            O pecado menor de “bebedice” era logo perdoado pelo Divino Menino. O relato poético, assim como outros documentos do período, comprovam que o Natal de nossos antepassados era um misto de sagrado e profano, onde a devoção espiritual e os excessos se combinavam com as boas intenções. O Natal era a festa de todos, e, sobretudo, a celebração do convívio e da solidariedade. Carne, arroz e pão eram distribuídos, pelas irmandades religiosas, aos pobres. Ninguém ficava de fora da festa de abundância.
Nada a ver com nossas festas cada vez mais consumistas e individualistas, de hoje!
Por Mary Del Priore. (edição de Márcia Pinna Raspanti).
cartãonatal
Cartões de Natal: o costume surgiu no século XIX.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

História: As causas da Guerra do Paraguai - PGM 11

Documentário - Vestígios da Guerra Grande (Guerra do Paraguai)

HISTÓRIA DO BRASIL: A GUERRA DO PARAGUAI = NARRAÇÃO E PRODUÇÃO PROF. CE...

História do Brasil - Segundo Reinado: Parte I

Período Regencial (1831 - 1840)

Período Regencial (1831 - 1840)

Segundo Reinado (1840 - 1889) Parte I

Documentário sobre o Segundo Império no Brasil (D. Pedro II)

Dom Pedro II no Brasil (Documentário Completo Dublado) Filmes Series Des...

Dom Pedro de Alcântara 1/2 – Menino imperador

D. Pedro de Alcântara, o menino imperador

by marcia
Por Pedro Penafiel.
Este vídeo aborda a infância do imperador dom Pedro II. Falaremos sobre a importância de sua figura, tanto na consolidação do império brasileiro, pois se precisava de um herdeiro do sexo masculino, como de sua manutenção após a abdicação de seu pai. Também trataremos do cuidado que se teve ao construir para ele uma imagem de monarca nacional oposta ao do pai. Por fim, apresentarei trechos de cartas trocadas no período, a fim de termos uma percepção um pouco mais acurada de quem eram essas pessoas. Talvez uma forma de humanizá-las.
Acesse o link abaixo:

Nascimento

  • Dom Pedro II nasceu em 2 de dezembro de 1825
  • Era fundamental a dom Pedro I apresentar um herdeiro do sexo masculino para o futuro do império
  • Perdeu a mãe com um ano
  • O pai foi para a Europa quando ele tinha cinco
  • Ficou completamente órfão aos nove anos

Aclamação

  • Logo que seu pai abdica ao trono, o jovem dom Pedro de Alcântara é aclamado como novo imperador
  • Manter a monarquia foi considerado o mais seguro pelas elites que ficaram no poder em 1831
  • José Bonifácio se torna tutor dos filhos de dom Pedro I
  • Em 1833 o marquês de Itanhaém se torna tutor das crianças

Imagem de sábio

  • A imagem do imperador, mesmo quando jovem, sempre será a de alguém mais maduro
  • Será um contraponto com a imagem do pai, mais jovial e inconsequente
  • Ele foi educado para ser o símbolo da civilização brasileira

Referências bibliográficas

  • Carvalho, José Murilo de. D. Pedro II. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
  • Del Priore, Mary. Condessa de Barral – a paixão do Imperador. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.
  • Gomes, Laurentino. 1822: Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil, um país que tinha tudo para dar errado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.
  • Schwarcz, Lilia Moritz. As barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

Imagens

FONTE: Academia de História.Dompedroiibebe
  • D. Pedro de Alcântara, Pintura de Arnaud Pallière (cerca de 1830).

domingo, 20 de dezembro de 2015


O Mal sobre a Terra – Uma história do terremoto de Lisboa

by marcia
De Mary del Priore.
          Primeira leitura brasileira sobre o grande terremoto que destruiu a capital portuguesa, este livro é fruto de quatro anos de pesquisas de sua autora, Mary del Priore. Num texto ágil, com sabor de romance policial, a historiadora nos revela a tragédia que se abateu sobre a capital portuguesa na manhã de 1º de novembro de 1755, quando o povo, maciçamente católico, comemorava o dia de Todos os Santos. Por conta das muitas velas acesas nas igrejas e nas casas, ao terremoto seguiu-se um incêndio de enormes proporções. E muitos países vizinhos foram afetados também, seja por abalos sísmicos de menor intensidade, seja por consequências do maremoto que o tremor de terra provocou.
         Todos os detalhes dessa fascinante e triste história são contados através dos depoimentos de sobreviventes, como é o caso do luso-francês Jacome Ratton, que veio a se tornar uma das mais importantes e reveladoras testemunhas do fato. No lançamento da primeira edição, em 2003, esta obra ganhou duas páginas elogiosas (além de chamada de primeira página) no caderno Prosa & Verso do jornal O Globo. Em conversa com a jornalista Rachel Bertol, Mary del Priore explicou que, "através do relato de Ratton, o leitor vai entrar na cidade, assistir ao terremoto e saber o que aconteceu depois. Jovem filho de ricos comerciantes, no momento do terremoto ele aguardava, em casa, um cliente que jamais chegou. Nós o reencontramos ao fim do livro, quando conta seu infortúnio: entusiasta do marquês de Pombal, Ratton tentou, em vários momentos, fazer negócios com esta importante figura do reino de Portugal à época de Dom José I. Mais tarde, identificado com o grupo pombalino quando o primeiro-ministro caiu em desgraça, foi expulso do país e morreu em Londres".
     Para o historiador Ronaldo Vainfas, “este não é mais um livro de Mary, historiadora já consagrada pela originalidade de suas obras, pela perícia de sua investigação documental e pela plasticidade de seu texto. O Mal sobre a Terra é, talvez, o principal livro dentre tantos escritos por ela, um presente para a historiografia. Antes de tudo porque reconstitui, sob todos os ângulos, a tessitura de um fato histórico geral sem recuar diante dos detalhes mais ínfimos que o impacto do célebre terremoto ensejou no meado do século 18”. 
Lançamento da segunda edição revista, com caderno de ilustrações (16 páginas).
SINOPSE
 O Mal sobre a Terra – Uma história do terremoto de Lisboa                              
        Sucesso de público e crítica quando de seu lançamento, em 2003, ganha agora segunda edição revista este que é a primeira leitura brasileira sobre o terremoto que destruiu Lisboa em 1755. Num texto que se aproxima do romance policial, a autora, doutora em História, analisa os múltiplos significados da catástrofe a partir dos depoimentos dos sobreviventes, e tenta colher o que Foucault chamou de "o grão dos dias", aquele que se espalha pelos documentos como farinha opaca. No texto que preparou para a primeira edição do livro, a também historiadora Maria Yedda Linhares (1921-2011) destacou em Mary del Priore a "sensibilidade, estilo, bom gosto e domínio seguro da historiografia pertinente, bem como da documentação arquivística arrolada na Europa", ressaltando que ela "tem o dom da narrativa histórica, o domínio das fontes e da erudição do tema ao qual se dedica". Com caderno de ilustrações de época (16 páginas).
terremoto
 SERVIÇO

O Mal sobre a Terra – Uma história do terremoto de Lisboa
Autora: Mary del Priore
Formato: 15,5cm x 23,0cm
324 páginas / R$53,90
ISBN: 978-85-7475-255-6
Capa: Adriana Moreno

Topbooks Editora e Distribuidora de Livros Ltda.
Rua Visconde de Inhaúma, 58 / sala 203
Centro – RJ / CEP: 20091-007
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O Quinto Império

by marcia
Por Andrew Amaral.
O ano é o de 1139, o local, o campo de batalha em Ourique (sul de Portugal), a visão de Jesus Cristo e dos anjos prenuncia a Dom Afonso Henriques, até então somente conde de Portucália, que a vitória sobre os infiéis, no caso os mouros, estava garantida, e que a partir dele, um grande império seria edificado.
Dom Afonso Henriques vence, e com o espicaço da vitória, posteriormente, se proclamaRex Portugallensis (Rei dos Portucalenses ou Rei dos Portugueses). O condado se tornaria um pequeno reino europeu, o primeiro sob a forma de Estado Moderno, apesar de estarmos ainda na Idade Média. Ratificar a autonomia do reino levou Dom Afonso Henriques, e outros seus sucessores, a outras vezes mais, provar da promessa no campo de batalha. A gente bravia, que nem sempre tinha a seu favor um efetivo numérico considerável, transpassava as dificuldades com audácia, na certeza que cada luta trazia consigo uma oportunidade de reafirmar a santa e sagrada promessa do surgimento de um grande império.
A crise da sucessão do trono (1383-1385) levaria, por pouco, à derrocada da visão triunfal. Ascende à figura do Mestre de Avis, intitulado como Dom João I, que com o suporte do imbatível Santo Condestável, Nuno Álvares Pereira, dá cabo as esperanças de Castela em absorver o reino vizinho, ao menos por enquanto. Assim vai começar a dilatação do reino, e o marco dessa nova era seria a conquista de Tânger, um importante entreposto comercial africano. Tânger seria a primeira conquista das muitas que se sucederam nos quatro cantos da terra. Dom Afonso V, cognominado de “O Africano”, vai consolidar seu nome sob o signo de suas conquistas, e se não fossem estas a memória de suas prodigalidades não poderiam ser minoradas. O nome de Portugal vai se consolidar na historiografia mundial com o advento das grandes descobertas, e se não fosse a incredulidade de Dom João II, que não se deixou convencer pela pessoa de Cristovam Colombo[1], poderia ter sido atribuído ao rei de Portugal o senhorio de toda a América.
Mas apesar do fato da descoberta do Novo Mundo ter sido encetada em nome da coroa castelhana, Portugal não ficou atrás. Dom Manuel, o Venturoso, teve a graça de em seu reinado ver prosperar a política e investimento de grandes vultos, tais como o Infante Dom Henrique, e os esforços dos impávidos argonautas portucalenses. O descobrimento do Brasil trouxe ao reino de Portugal a feição que todo império carece: a grandeza e esplendor de seus domínios.  Já no inicio de seu desapontável reinado Dom Sebastião, pode-se dizer sem sombra de dúvida, era o monarca europeu mais promissor em termos de posse. Entretanto, a máquina pública estava encerrada nos arcaicos sistemas medievais que predominavam numa época de intenso comércio, que iria cimentar o contexto da Revolução Industrial. Portugal foi um Império, na há dúvida, um Império que nasceu no rebento de suas conquistas, mas um Império frágil a si mesmo.
Nos confins do mundo, no interior de uma inculta capitania ecoava a voz de um Ilustre pregador. O que ele apregoava: o surgimento de um grande império. Seria, como professo nas Escrituras Sagradas, O Quinto Império[2]. Esta voz eloquente se exaltava contra a desgraça que se assolou sobre Portugal. A União Ibérica construiu um novo império, mas aos olhos do Padre Vieira, isso tudo não passada de uma usurpação, e como ele todos os portugueses, com exceção dos oportunistas de plantão (sempre houve e sempre haverá), não conformavam com aquilo que parecia mais um cativeiro, à moda hebraica.
O tempo era mais que propício à reverberação das Lamentações de Jeremias, mas, ao invés de rememorar as tristezas e perseguições, um sonho era acalentado com a fúria titânica de um povo inconformado. Será que a profecia anunciada a Dom Afonso Henriques não passou de uma quimera? Não, isto é impossível, pois a glória Portugal não estava sepultada pela ambição dos filipes. Não, um Império estaria por emergir das entranhas de um cativeiro ignominioso...As adversidades seriam somente o pretexto para a mobilização de um exercito invencível, que poria termo à heresia castelhana e que se ergueria aos píncaros da glória.
Não resta dúvida, hoje, que Portugal não é, e nem tão pouco dá impressões que se tornará um dia um Império. O Brasil, entretanto, vive há séculos a promessa de um futuro promissor, um futuro tão grande quanto sua extensão territorial, e tão rico como sua natureza. Mas podemos nos perguntar hoje: O caminho que percorremos está a nos levar aonde? O que fará do Brasil um império de verdade? Seria a retificação do título República Federativa do Brasil, por Império do Brasil, o início de uma nova ordem? Aliás, não tão nova...Já fomos um Império, repleto de “glórias”, de homens sábios e filósofos, de grandezas em titularia e de palácios, mas isso foi mais efêmero do que a grandeza de Portugal. Diz o ditado que a barba não faz o filósofo, tão pouco a mudança de regimes ou formas de governo fará com que o Brasil se torne uma potência instantânea. É inconcebível a concepção de um império sem grandeza, e da mesma forma que é impossível o desenvolvimento econômico e social sem investimento em educação e infraestrutura. Estamos cheios de lugares-comuns, vivemos em dias propícios a tais, mas nos esquecemos que a responsabilidade recai sob aqueles que não se esquivam em sonhar com o Império utópico e verdadeiro, Império não dez séculos, ou sessenta e sete anos, mas um Império que desponta no horizonte dos que lutam pela justiça e encaram a cada dia o mal maior da indiferença, porque o futuro está a nossa frente...
Em tempos de crise, em que vivemos, as promessas fugazes se juntam aos falatórios insanos, e a República das Bananas, aliás, alguém já disse: dos macacos, caminha espelhada na grandeza de um passado tão pouco lembrado, de um presente nada ardoroso e um futuro, sabe se lá, o que será, mas que todos sonhamos que seja glorioso.
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Padre Antônio Vieira: o Quinto Império.

[1] Sugestão de leitura: “Dom João II”, Mário Domingues.
[2] “Vio Nabucodonosor aquella prodigiosa estatua, que representava os quatro Impérios dos Assírios, dos Persas, dos Gregos e dos Romanos; o corpo estala descuidado, com os sentidos presos, & a alma andava cuidadosa, levantando, derrubando estatuas, fantasiando Reynos, Monarquias. Mais fazia Nabucodonosor dormindo, que acordado: porque acordado cuidava no governo de hũ Reyno, dormindo imaginava na sucessão de quatro. Pois se Nabuco era Rey dos Assírios, quem o metia com o Império dos Persas, com o dos Gregos, com o dos Romanos? Quem? A obrigação do officio que tinha. Era Rey, quem quer conseruar o Reyno próprio hade sonhar com os estranhos”.  Antonio Vieira, in Serman do Esposo da May De Deos S. Joseph.

Dez livros de culinária antiga para baixar gratuitamente

by marcia
cezanne04
Natureza morta de Cézanne.
O blog BioCulinária (http://bioculinaria.blogspot.com.br/2015/03/10-livros-de-culinaria-antigos-para.html ) selecionou dez livros de culinária antiga que podem ser acessados gratuitamente. Além das receitas, as obras trazem várias informações sobre culinária, dietas, hábitos alimentares e de higiene.
Confira essas preciosidades (basta clicar no título de cada obra):
Dividido em 4 seções – carne, ovos, leites e conservas – esse é o mais antigo livro de culinária em língua portuguesa. De autoria desconhecida e originalmente totalmente manuscrito, hoje é possível baixá-lo com escrita adaptada para o século XXI.
Primeiro livro de culinária português a ser publicado, essa obra de Domingos Rodrigues se destinava às elites e teve uma grande influência em toda a culinária portuguesa. Muitas receitas desse livro ainda apareciam em manuais brasileiros do final do século XIX.
Mrs. Rundell, autora dessa obra, é considerada a primeira “deusa da cozinha”. Seu livro foi o primeiro best-seller de culinária do século XIX, circulando no mundo todo em várias edições originais e pirateadas.
Primeiro livro de culinária legitimamente brasileiro, o nome de seu autor é desconhecido. Em várias edições, misturava receitas inglesas e francesas às iguarias e ingredientes tipicamente nacionais.
Mais do que um livro de culinária, esse best-seller do século XIX era um guia completo para administrar uma casa.
Segundo livro de culinária a ser publicado no Brasil e primeiro a dedicar uma atenção especial às influências indígenas e africanas na formação da culináia nacional.
09. Tempting Dishes for Small Incomes (1903) Um manual de culinária para damas e cavalheiros de recursos financeiros escassos.
O primeiro tratado de culinária italiana escrito fora da Itália.
Cozinheiro-Imperial
"Cozinheiro Imperial", de 1839.

Vingança: flagrante na saída do motel

by marcia
O adultério não é mais crime pela legislação brasileira, mas ainda traz muita violência e constrangimento. Nessa semana, causou polêmica um vídeo que circulou pelas redes sociais, em que o marido flagra a esposa com o amante, na saída do motel. Agressões e xingamentos foram gravados e depois amplamente divulgados. A exposição dos envolvidos na internet é a vingança "moderna" contra a traição e o desprezo. Homens também têm tornado públicas as intimidades sexuais das mulheres que julgam tê-los ofendido ou traído.
A opinião pública e os "juízes" das redes sociais estão sempre prontos a condenar as adúlteras e devassas. "Quem mandou se deixar ser filmada?" ou "Quem mandou trair?". Sem dúvida, o ônus dessas situações recaem sobre as mulheres, na maioria das vezes. A humilhação de ter sua intimidade exposta para milhares de desconhecidos tem destruído a vida de muita gente. A vingança, por pior que seja, é sempre relativizada, pela suposta culpa da vítima. Além do apedrejamento virtual, ainda convivemos com a violência física e mesmo o assassinato de mulheres motivados pela sua conduta sexual.
Isso já vem de longa data. A mulher adúltera sofria graves consequencias de seus atos, desde os tempos coloniais, como nos conta Mary del Priore, em "A História do Amor no Brasil". Vamos conhecer alguns casos: José Galvão Freire matara em Guaratinguetá sua mulher, D. Maria Eufrásia de Loyola, e ferira o estudante Manuel de Moura, por “achá-los em adultério”. O delito era para os desembargadores “desculpável pela paixão e arrebatamento com que foi cometido”, e assim permitiram que o uxoricida cuidasse de sua defesa em liberdade”.
Já a gente "de cor", explica a autora, não encontrava a mesma benevolência junto dos magistrados, certamente porque aos maridos negros ou mulatos se entendia que não havia honra a defender. Manuel Ferreira Medranha, pardo liberto, foi condenado a degredo por toda a vida em Angola, além de pagar pena pecuniária, por ter matado a mulher. Na legislação lusa e na sociedade colonial constata-se a assimetria na punição do assassínio do cônjuge por adultério. Enquanto para as mulheres não se colocava sequer a possibilidade de serem desculpadas por matarem maridos adúlteros, para os homens a defesa da honra perante o adultério feminino comprovado encontrava apoio nas leis. O marido traído que matasse a adúltera não sofria qualquer punição. Lemos nas Ordenações “Achando o homem casado sua mulher em adultério, licitamente poderá matar assim a ela, como o adúltero, salvo se o marido for peão, e o adúltero, fidalgo, desembargador, ou pessoa de maior qualidade”. Assim, enquanto a condição social do parceiro do adultério era levada em conta, à condição social da adúltera não se revestia da menor importância. Tanto podia ser morta pelo marido a plebeia como a nobre.  Outra punição para as adultas, o confinamento num convento.
Em 1771, Bento Esteves de Araújo, suspeitando da traição de sua mulher Ana da Cruz, confinou-lhe no convento de N.Sra. da Ajuda, no Rio de Janeiro. Mas a paixão devia ser grande, pois lhe escrevia, “não tenho tempo de narrar o que tenho sentido a seu respeito...olha fiquei tão fora de mim que cheguei em casa todo molhado [...] Infinitas vezes tenho de noite acordado todo elevado, e querendo completar toda a vontade não acho o que tenho no sentido, pois cada dia, são mais de mil lembranças destas[...]”. E avisando à esposa que iria visitá-la às escondidas, rabiscava: “Estando o prego fora avise que lá irei dizer-lhe um adeus, ouviu. Rasgue logo esta. Seu marido”.
Mesmo conscientes de que o castigo do adultério feminino era bem mais rigoroso do que o do masculino, as mulheres da colônia não deixavam de cometer este pecado – do ponto de vista da Igreja – ou, este crime -  ponto de vista do Estado. Não era fácil para elas manter relações adulterinas a não ser na ausência do marido, por separação decretada por Tribunal Eclesiástico, ou por contato frequente com clérigos. Senhor de engenho no Recôncavo, Jacinto Tomé de Faria se ausentava com freqüência da cidade para ir para suas terras. Sua mulher, Ana Maria Joaquina da Purificação nunca o acompanhava. Isto porque de noite ela recebia seu amante, o cônego da Sé da Bahia, José da Silva Freire. Este entrava clandestinamente em sua residência, e para melhor o conseguir “mandara roçar o mato que ficava na parte do quintal e por esse insólito caminho adentrava a casa, fechado em sua cadeira de arruar” ou envolto num espesso capote. O cônego tinha as chaves de uma porta que ficava do lado do quintal da qual passava, por uma série de alçapões construídos por seus escravos, para um quarto do sobrado onde Ana o aguardava”. Pego em flagrante,o cônego foi processado e pagou 300$000 ao senhor do engenho além de ter sido degredado por um ano para Ilhéus.
Afagos e deleites não dão margem a ilusões pois as tensões e conflitos estão bem presentes. Temperadas por violência real ou simbólica, as relações eram vincadas por maus tratos de todo o tipo, como se vêem nos processos de divórcio e na obsessão das mulheres por acalmar seus maridos e amantes por meio de magia. Não faltaram mulheres assassinadas por mera suspeita de adultério ou por promessas de casamento não cumpridas.
Infelizmente, ainda hoje, a sociedade ainda é mais benevolente com as traições masculinas. Em pleno século XXI, ainda ouvimos que os homens "são assim mesmo". A mulher, entretanto, continua a ser agredida física e emocionalmente - e virtualmente - por seus atos.
- Texto de Márcia Pinna Raspanti e Mary del Priore.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Os juízes estão se tornando mestres de sabedoria, bom senso e até humor. Leiam o pronunciamento do juiz na audiência inaugural de uma ação. Abro a coluna com uma historinha do CE. O tema : um cabaré processado pela Igreja. Vamos ao caso. Em Aquiraz, região metropolitana de Fortaleza, Tarcília Bezerra começou a construção de um anexo do seu cabaré, a fim de aumentar suas atividades, em constante crescimento. Em reação contrária ao empreendimento, a igreja neo-pentecostal da localidade iniciou forte campanha para bloquear a expansão. Fez sessões de oração, em seu templo, de manhã, à tarde e à noite. Porém, o trabalho da construção progrediu até uma semana antes da reabertura, quando um raio atingiu o cabaré de Tarcília, queimando instalações elétricas e provocando um incêndio que destruiu tudo. Tarcília processou a igreja, o pastor e toda a congregação, com o fundamento de que a Igreja "foi a responsável pelo fim de seu prédio e de seu negócio, seja através de intervenção divina, direta ou indireta, ações ou meios". O certo é que o raio lhe causou enormes prejuízos, objeto de indenização. Em sua defesa na ação, a igreja negou veementemente toda e qualquer responsabilidade ou ligação com o fim do cabaré, inclusive pela falta de prova da intervenção divina e orações dos pastores. O juiz, veterano, leu a reclamação da autora Tarcília e a resposta dos réus, os pastores. Na audiência de abertura, abriu o verbo : "Não sei como vou decidir neste caso, pois pelo que li até agora tem-se, de um lado, uma proprietária de casa de tolerância, que acredita firmemente no poder das orações ; e do outro lado, uma igreja inteira que afirma que as orações não valem nada". Seria o caso de medir a propriedade deste conceito ? "A ciência sem a religião é aleijada e a religião sem a ciência é cega".
lustração mostra suposta bruxa lançando um feitiço em pleno julgamento: repare no cavalheiro à direita, 

O livro Malleus Maleficarum foi escrito no final do século XV e serviu por cerca de trezentos anos como um guia de bolso para identificar, interrogar e condenar bruxas. Em latim, significa “O Martelo das Bruxas”, uma escolha de título quase literal, já que a obra ajudou a levar incontáveis mulheres pra forca e pra fogueira.
O autor seria um o clérigo alemão Heinrich Kramer, que publicou o texto em 1487, pela Faculdade de Teologia da Universidade de Colônia, na Alemanha. A obra teria sido uma das mais populares de sua época sobre o tema. Acredita-se que até 1520 foram 13 edições e depois, entre 1574 e 1669, o livro foi reimpresso outras 16 vezes. Segundo a revista Galileu, alguns pontos ajudam a explicar o sucesso do manual: a misoginia do texto, a polêmica aprovação da Universidade de Colônia, que garantia o endosso intelectual pro trabalho; a ideia colocada ali de que a bruxaria era um crime ainda pior que a heresia e, por fim, o fato de ter sido impresso, luxo dispensado a uma quantidade pequena de livros no século XV. 
Confira a reportagem completa da Revista Galileu, que faz aproximações entre o texto e o machismo dos nossos dias:Ilustração mostra suposta bruxa lançando um feitiço em pleno julgamento: repare no cavalheiro à direita, prestes a desembainhar sua espada  (Foto: Wikimedia Commons)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

O cotidiano nas fazendas de Minas Gerais no século XIX

by marcia
Em São João del-Rei, o mobiliário era pobre. Nas salas, onde se recebia visitas, espalhava-se um par de bancos, uma mesa, algumas camas desarmadas, tamboretes. Distribuídos na parede de pau a pique, cabides onde se penduravam todo o tipo de acessórios: de roupas a utensílios domésticos ou de trabalho. Essas raramente recebiam uma mão de cal. Enorme talha com caneco de ferro dava água fresca a beber. Os quartos foram comparados por Burton a covis: imundos, com chão de terra batida e os tetos em estilo mineiro, ou seja, de esteira: simples tiras de taquara cruzando-se em ângulo reto. As camas tinham, por toda a cobertura, um pedaço de chita colorida que não protegia do frio.
Dormia-se mal, mas comia-se razoavelmente. Na fazenda do capitão-mor de Tamanduá, Saint-Hilaire foi recebido com “perfeita cortesia”. A comida era abundante e seria considerada excelente em qualquer país. “Diante de cada conviva, havia um garrafão de Vinho do Porto de ótima qualidade, acompanhado de pãozinho saborosíssimo o que era realmente uma raridade [...] A fartura da mesa não condizia, contudo com o aspecto da casa”.
Burton, por sua vez, queixou-se que, quase sempre comia mal. Só, na região de Mariana, o cônsul foi excepcionalmente servido de porco, ovos quentes, galinha com arroz, tutu de feijão temperado com toucinho - conhecido pelos estrangeiros como “cataplasma” de feijão” -, tudo regado a molho de pimenta. De sobremesa: canjica, milho cozido e doces. A primeira era temperada com rapadura e servida com marmelada  ou goiabada, acompanhada de queijo. O vinho, chamado “de Lisboa”, era um rum de melaço. “Toda a refeição termina com uma xícara de café”, informou. Presente também, a “jacuba”: um alimento de escravos consumido por todos. Consistia em farinha de milho misturada com rapadura e água fria. E a “mexeriboca”,  um misto de carne, arroz, feijão, farinha, mexido e consumido com colher. Cerveja e vinhos encontravam-se nas despensas de engenheiros estrangeiros, vindos para trabalhar nas velhas minas. Luccock teve a oportunidade de degustar “vinte e nove variedades de frutas” servidas em compotas. Maravilhou-se! Langsdorff provou algo novo: pipoca frita com banha. Os escravos eram mal alimentados com farinha de milho misturada à água quente na qual se punha um pedaço de toucinho ou de peixe seco. À noite, comiam feijão.
Nas refeições, distribuíam-se as panelas onde os alimentos tinham sido cozidos e pratos de estanho e barro. Cada um servia-se à vontade.  Espalhava-se farinha de milho sobre a mesa, para ser servida com a comida contida nas travessas. O naturalista austríaco João Emanuel Pohl notou o luxo dos detalhes: pratos de louça inglesa, guardanapos, talheres de parta, copos e bacia para lavar as mãos e boca, depois das refeições. Foi exceção!
Dentre as atividades diárias da fazenda, uma ocupava os homens: fazer queijo. O leite era tirado colocava-se nele o coalho, que o fazia talhar instantaneamente. O mais comum era o de capivara, por ser o mais fácil de encontrar. As formas de madeira e de feitio circular tinham o espaço livre interno mais ou menos do tamanho de um pires. Essas formas eram colocadas em uma mesa estreita de tampo inclinado. O leite talhado era colocado dentro delas em pequenos pedaços até enchê-las. Em seguida, espremia-se a massa com a mão e o leite escorria para dentro de uma gamela colocada embaixo. Compactava-se colocando mais e mais massa talhada. Cobria-se de sal a parte superior durante doze horas. Virava-se o queijo, salgando do outro lado. Na manhã seguinte, arrumavam-no em lugar sombreado, sendo virado de tempos em tempos por oito dias. Estava pronto. O sabor era suave e agradável, segundo Saint-Hilaire. Transportados para o Rio em jacás, de bambus grosseiramente trançados, cada cesto continha 50 queijos. Dois cestos constituíam a carga de um burro.  Autoridades costumavam “furar” os queijos que passavam pelos Registros, em busca de ouro e diamantes.
Nas fazendas onde se criavam carneiros, esses eram tosados duas vezes por ano: no mês de agosto, ao fim da temporada de inverno, e seis meses depois, antes da seca. Aproveitava-se a lã para fazer tecidos grosseiros com os quais se vestiam os negros. Ela também era empregada no fabrico de chapéus de abas largas com copa baixa e arredondada, muito usada pelos mineiros. Espessos e pesados protegiam contra os ardores do sol. Havia mulheres hábeis capazes de fazer tecidos diferentes deste tipo de lã, ganhando assim sua vida.
Junto com a lã, cultivava-se linho e algodão que eram fiados em teares. Cobertores de algodão lavrados com flores, quadrados e cruzes coloridas era produto desta indústria doméstica. Em Tapera, arraial do distrito de Diamantes, o mesmo Saint-Hilaire apreciou o trabalho dos teares capazes de fabricar toalhas, lençóis e colchas vendidos na região ou exportados para a Corte. Em Minas Gerais, não só se fiava como se tingiam tecidos. Quanto às cores, o branco era feito de cal, o vermelho e amarelo, de argila e o rosa e azul, de substâncias vegetais.  O corante era fixado com ajuda de urina.
A esse trabalho feminino juntavam-se outros: mulheres, livres ou escravas, eram empregadas na casa e nos afazeres domésticos: levavam milho para a moenda, cozinhavam comida para os porcos, ocupavam-se da cozinha, da roupa, de espalhar o feijão, de cozinhar óleo, fazer farinha, dar comida às galinhas, entre outras tarefas “miúdas”.
Exemplo de uma delas? A salga do porco: torrava-se a pedra de sal numa vasilha, punha-se o sal no fogo até que se reduzisse a pó fino, esfregava-se bem a carne, cortando-a transversalmente, para que o sal penetrasse no toucinho. Outra: a fabricação de óleo com o coco-de-catarro. Ele era colhido e deixado para decompor-se. A seguir, amassado e espremido. Do óleo, fazia-se sabão ou velas e tratava-se o couro usado em outras atividades.  Outra ainda: a fabricação de cigarros de milho enrolados em folhas do mesmo vegetal e amarrados com fitas coloridas em maços pequeninos, como viu fazer Marianne North. Panelas de pedra sabão ou louça grosseira – pratos, tigelas, moringas e bilhas - de argila, também podiam ser confeccionadas na zona rural, informa-nos Lima Júnior. Para torná-las menos frágeis, eram cobertas com uma camada de verniz espesso. Se quebrassem, o sumo do cipó-jibóia colava as partes.
Nas casas de fazenda, não faltavam pequenos canteiros, cultivado por mãos femininas. Num vicejava a malva cheirosa, o alecrim, o manjericão levados para as Minas pelos aventureiros de 1700. Noutro, a botica doméstica: a macela galega, o poejo, a cânfora herbácea, a artemísia curavam o febres, catarros, dores de estômago. A arruda africana neutralizava o mau-olhado e às sextas-feiras queimavam-se folhas de “guiné”. Purgativos? A cagaita e o caju. Rosmaninho e outras ervas odorantes afugentavam insetos e davam “bons ares” nos cômodos. O óleo de copaíba extraído da planta que “chorava no mês de agosto”, era ideal para pisaduras de animais. Aos doentes se alimentavam de galinhas, carne de vaca fresca e um medicinal copinho de cachaça. No século XIX, o uso da homeopatia tornou-se moda até nessas longínquas paragens. A presença de gado bovino introduziu várias crenças ligadas à valorização da saúde: pedra do bucho afastava qualquer dor. Chá de bosta curava coqueluche.  Chifre de boi preso na cerca preservava do mau olhado.
Nas propriedades próximas aos rios como, por exemplo, a Fazenda da Carreira Comprida no caminho de Curvelo fabricavam-se armadilhas para pegar abundantes peixes. O curral e o jequi, cesto cônico de taquaras seguro com cipós e presos a estacas eram muito eficientes. A grozeira constituía-se num sistema de estacas finas, ligadas por lianas, às quais se prendiam linhas e anzóis. O chiqueiro era uma armadilha de taquara que se fechava quando o peixe mordia a isca. Minhocas, sabugos de milhos, ninhos de passarinho e penas eram usados para atrair peixes depois fritos, secos ao sol ou preparados em conservas.
Nas casas de farinha, mulheres livres e escravas cuidavam do descascamento da mandioca, da extração do polvilho e da fabricação de beijus. Já a ralação, prensagem e torração, por exigir força física, era atividade para os homens. Todos garantiam o velho ditado popular: “Onde houver farinha e milho, cada um cria o seu filho”. - Texto de Mary del Priore.


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Fazenda retratada por Rugendas